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Pedro, Apóstolo

Ele era das terras perfumadas de rosas de Betsaida, próxima ao lago de Genesaré, na desembocadura do rio Jordão, mas se estabelecera em Cafarnaum, onde proliferavam os pequenos vinhedos e se fazia a pesca abundante. Casado, tinha filhos. Em siro-caldeu, chamavam-no Cefas; em grego, apelidavam-no Petros, significando pedra, rocha.

Quando Jesus utilizaria uma ou outra dessas denominações, ele haveria de se indagar, mais de uma vez: Será que o Mestre me deseja dizer que sou uma fortaleza de ânimo e fé, ou será por causa da minha cabeça dura?

Era um homem correto, simples, por vezes quase ingênuo.

Nele se evidenciam três fases: antes de conhecer Jesus, o período que com Ele conviveu, e os anos após a morte do Divino Amigo.

Pedro bar Jonas. Pedro, filho de Jonas. Era pescador e um homem céptico, sem sutilezas de comportamento. As suas eram as preocupações básicas com sua família, sua vida. Com André, seu irmão, mantinha uma sociedade pesqueira com a família Zebedeu, pai e filhos: Tiago e João.

Seus deveres se restringiam à faina da pesca, ao trabalho com as redes, à venda dos frutos do mar.

Cumpria suas restritas obrigações na Sinagoga, sem emoção. Amava o povo sofrido e tão enganado. Num misto de curiosidade e descrença, ele foi ouvir a pregação de Jesus.

Nunca mais foi o mesmo. …desejava saber de onde e desde quando O conhecia e O amava… 4

Simão fez-se taciturno, como quem aguarda, embora permanecesse gentil e cumpridor dos deveres.

Foi nesse estado de espírito que, em formosa manhã, enquanto organizava as redes com o irmão, foi surpreendido pela presença do Amigo, que se lhes acercou e, com uma voz inesquecível, convidou-os:

“Segui-me, e eu vos farei pescadores de homens.” 4

Pedro deixou as redes, a pesca e O seguiu. Voltaria às lides, nos intervalos das jornadas de apostolado, para atender a família ou às necessidades do grupo.

Os desencantos da vida principiavam a nevar os seus cabelos. Ele deveria ter em torno de trinta e quatro a quarenta anos. Homem rude e habituado à praticidade de tudo, haveria de indagar a Jesus: Senhor, deixamos tudo para seguir-Te. Que lucraremos com isto?

Ávido de conhecimento, perguntava sempre.

Possivelmente, foi escolhido pelo grupo para ser seu porta voz, quiçá pela intimidade maior que gozava junto a Jesus, pois é sempre a ele, Tiago e João que Jesus confidencia questões muito próprias. Algumas que, somente após Sua morte, seriam reveladas, tais como o episódio no Tabor e todo o drama da vigília, antes da Sua prisão, no Jardim das Oliveiras.

Os anos em que esteve com Jesus trabalharam ainda mais sua fibra moral. Conheceu o Amigo de perto e com Ele privou de momentos inesquecíveis: a transfiguração do Mestre, a visita dos seres espirituais que se materializaram: Elias e Moisés.

É o homem medianeiro que, em dado momento, se faz arauto dos Céus e, frágil, em outras circunstâncias, se permite ser o intermediário dos inimigos da Luz.

Líder autêntico, Jesus o corrige pacientemente, utilizando os seus erros para dar preciosas lições a todos os demais.

Pedro brilhou porque aprendeu muito com seus erros. Tendo negado o Amigo por três vezes, não hesitava, nas suas pregações, em apresentar suas limitações e fraquezas aos que o ouviam.

Permitiu-se lapidar de tal forma que se tornaria referência para todos os homens do Caminho, após a hora do Gólgota.

Em Jerusalém, na Casa do Caminho, com Tiago ou em Antioquia, junto a Paulo de Tarso, seu espírito conciliador se manifestava. Começava a domar sua impetuosidade. O trabalho de Jesus era mais importante do que ele, Pedro, era o que pensava.

Sua acuidade se desenvolveu de tal forma, que chegou a escrever duas Epístolas, contendo grande riqueza poética e existencial. A primeira foi escrita em Roma, possivelmente entre os anos 63 e 65. Destina-se aos cristãos espalhados pela Província da Ásia. Supõe a perseguição de Nero, pois fala e dá conselhos com relação a ela.

Ele não possui, com certeza, a cultura de Paulo de Tarso. Mas exorta os cristãos a viver no espírito de caridade e a praticar as virtudes cristãs. Aconselha fiéis e pastores. É o homem prático que sabe dar, em poucas palavras, uma obra-prima de sabedoria e de edificação.

A segunda foi escrita, acredita-se, no ano 67, e tem o tom de um legado, um testamento. Avizinha-se sua morte, ele o pressente. É a época de muitas contestações, inclusive sobre o próprio Cristo, e Pedro reafirma aos cristãos a necessidade do cultivo das virtudes, mesmo em meio à iniquidade de tantos.

Pedro é o companheiro fiel e humilde que permanece amigo até o fim. Assim o foi, especialmente com Paulo de Tarso. Quando Pedro vai a Roma, Paulo de Tarso lhe providencia com carinho e respeito uma casinha para ele e sua família.

Mais tarde, prisioneiro na Prisão Mamertina, está outra vez junto a Paulo. E célebre é o episódio em que o soldado da guarda, à custa de tanto ouvir os dois Apóstolos conversarem a respeito de Jesus, toma-se de carinho por eles e os deseja libertar.

Pedro sai na noite-madrugada e ganha a rua. Os primeiros passos são incertos, dificultosos, mas a aragem que lhe refresca o rosto, lhe acaricia a barba e os cabelos, parece refazê-lo.

Ao despontar o dia, ele já se encontrava na Via Ápia, a caminho da liberdade. Num momento em que se detém para descansar, seus olhos cansados divisam uma forte luz que vem ao seu encontro.

Ele mal consegue manter a visão fixa, no intuito de se certificar o que seja. É como se uma estrela tivesse caído do Empíreo e transitasse pela Terra. Leva as mãos à fronte, protegendo os olhos e, à medida que o intenso brilho se aproxima, Pedro sente o coração acelerar no peito envelhecido.

É o Mestre. E vem ao seu encontro. Jesus! Quanta saudade!

Contudo, Jesus passa por ele e prossegue, fazendo exatamente o caminho inverso do Apóstolo.

Senhor, aonde vais? – Pergunta, ansioso, talvez já sabendo a resposta do Amor não Amado.

Pedro, vou a Roma, para ser sacrificado outra vez. Vou para o meu rebanho, desde que tu o abandonas.

Foi o que bastou ao Apóstolo para se dar conta de que, uma vez mais, depois de tantas lutas, utilizara as argumentações do homem prático. E retorna a Roma, para ser sacrificado. Foi crucificado, naquele mesmo ano  67, de cabeça para baixo, a fim de não se igualar ao seu Mestre e Senhor.

Foi o discípulo por excelência,  – Simão Pedro: pedra e pastor -,  que se levantou do engano para viver Jesus até o último instante, apascentando os cordeiros do Seu rebanho de amor… 3

Referências

1.CURY, Augusto. Vivendo a arte da autenticidade. In:___.O mestre da sensibilidade. 18.ed. São Paulo: Academia de Inteligência, 2000. cap. 6.

2.FRANCO, Divaldo Pereira. Fortalece os teus irmãos. In:___. Pelos caminhos de Jesus. Pelo espírito Amélia Rodrigues. Salvador: LEAL, 1988. cap. 22.

3.______. Simão Pedro: pedra e pastor. In:___. As primícias do Reino. Pelo espírito Amélia Rodrigues. Rio de Janeiro: Sabedoria, 1967.

4.______. Pescadores de almas. In:___. Trigo de Deus. Pelo espírito Amélia Rodrigues. Salvador: LEAL, 1993. cap. 1.

05.MIRANDA, Hermínio C. Os amigos. In:___. As marcas do Cristo. Rio [de Janeiro]: FEB, 1979. v. I, cap. 4.

06.RENAN, Ernest. Os discípulos de Jesus. In:___. Vida de Jesus. 13. ed. São Paulo: Martin Claret, 1995. cap. 9.

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