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Autor: Marcus De Mario

Armando Gonçalves é dedicado trabalhador voluntário do Centro Espírita, colaborando em diversas atividades e serviços, principalmente no estudo doutrinário, no atendimento fraterno e na reunião mediúnica, onde exerce a função de dialogador com os desencarnados. Respeitado e admirado, cumpridor diligente de suas tarefas e compromissos, procura sempre aumentar seu conhecimento sobre o Espiritismo e, apesar de arrastar consigo o drama familiar da incompreensão dos entes queridos, que vivem querendo atormentá-lo com essa sua “mania” de estar ligado às coisas do espírito, continua perseverante no seu ideal.

Aqueles dias, no entanto, tinham levado ao auge a verdadeira perseguição movida contra ele por parte dos familiares, que se deixavam levar por espíritos que tramavam contra Armando, num esforço para apagar a luz do Evangelho, culminando no difícil diálogo sustentado com um dos perseguidores espirituais na reunião de desobsessão. Apesar de tentar se manter sereno e confiante na proteção dos benfeitores espirituais, sem esquecer a oração, Armando havia sentido o golpe no seu íntimo, procurando então renovar suas energias no Centro Espírita, junto aos companheiros e companheiras de ideal. Foi assim que, aproveitando a oportunidade, solicitou a bênção do passe.

Um alvoroço agitou a todos. Como assim? Armando Gonçalves solicitando atendimento? Como isso seria possível? E quem se atreveria a aplicar o passe a ele, tão bem considerado, exemplo de verdadeiro espírita, ele que deveria estar acima de qualquer condição de reajustamento e de socorro? Com muito custo conseguiu fosse atendido, explicando que não era isento de problemas e dificuldades na vida, como qualquer outra pessoa. Mesmo assim, o atendimento foi feito sigilosamente, em dependência à parte, abafando-se o mais possível o caso. Alguns chegaram a hipotecar a ideia de ter de afastar Armando Gonçalves das atividades, para que o mesmo fizesse tratamento espiritual, quando ele apenas havia requerido breve atendimento fraterno para renovação de suas energias.

Desse dia em diante as coisas já não foram mais as mesmas para Armando Gonçalves no Centro Espírita. Alguns cogitavam de não mais poder confiar nele nas tarefas doutrinárias. Outros chegaram mesmo a cortar amizade ou o evitarem o mais possível. Espalhou-se que Armando sofria obsessão. Foi retirado da escala de palestrantes das reuniões públicas sob a alegação que necessitava de um tempo para rearmonizar-se. Tudo isso por causa da solicitação de um simples passe.

A história de Armando Gonçalves é muito significativa. Colocaram-no num pedestal, criando dele uma imagem irreal, esquecidos que trata-se de um espírito reencarnado num mundo de expiações e provas, sujeito a todas as vicissitudes da existência humana, como toda e qualquer pessoa. E mais, esqueceram que o Espiritismo é para todos: dirigentes, trabalhadores, frequentadores, simpatizantes, enfim, para qualquer pessoa, e, portanto, atendimento fraterno, passe, orientação espiritual, socorro material, também pertencem aos próprios espíritas, ou seja, dirigentes e trabalhadores do Centro Espírita também precisam de espaço para acolhimento, pois o fato de esposarem a Doutrina Espírita não os isenta de problemas, dificuldades e dúvidas. Somos todos espíritos imperfeitos em romagem terrena, ninguém neste mundo alcançou a perfeição.

O espírita, por mais consciente seja, por mais conheça os princípios da doutrina, por mais trabalhe com abnegação e renúncia, é igualmente um espírito reencarnado carregando vícios e virtudes, erros e acertos, portanto, vez ou outra necessitado de auxílio, sem que isso seja considerado o fim do mundo.

O Centro Espírita precisa abrir espaço para as reuniões fraternas de seus dirigentes e trabalhadores, não apenas para avaliação das atividades e melhor planejamento das mesmas, mas para realização do atendimento fraterno, da aplicação do passe, assim humanizando as relações e permitindo que, em conjunto, os laços do amor fraterno se consolidem.

Não esqueçamos que o Espírito da Verdade nos conclamou: “espíritas, amai-vos, eis o primeiro mandamento; instruí-vos, eis o segundo”, lembrando-nos da necessidade do amor entre nós em todas as circunstâncias, para que não tenhamos histórias como a do Armando Gonçalves. Pensemos com profundidade sobre isso.

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