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Professor e mestre: Diferenças e aproximações

Autor: Marcus De Mario

“Professores, existem muitos hoje em dia. Mas poucos podem ser chamados de mestres. Professores têm alunos; mestres têm discípulos que procuram quase imitá-los. O professor é aquele que exerce sua função como um computador. O mestre é um computador que tem alma. Enquanto o professor acha que já sabe tudo o que é necessário, o mestre se considera sempre um aprendiz. Mestre é aquele que ensina de modo tal que o discípulo se interessa em aprender e colocar em prática o seu saber, transmitindo-o a outros.”

Sabe de quem são essas palavras? Do psicólogo e educador Içami Tiba, em seu genial livro Ensinar Aprendendo, que todo professor, e todo educador, deve ler. E como o evangelizador espírita da criança e do jovem é igualmente um educador, esta recomendação também é feita para ele. O processo de evangelização espírita é um processo de educação, que leva em conta nossa realidade imortal e reencarnatória, e que deve preparar o Espírito para a vida, esta e a futura, depois da morte. Evangelizar significa ligar ou religar o Espírito, que todos somos, ao Evangelho, o que quer dizer, em outras palavras, aos ensinos morais de Jesus, levando o educando a compreendê-los e vivenciá-los de livre e espontânea vontade, no uso da sua liberdade de pensar e agir. Evangelizar não é ensinar o Evangelho de cima para baixo, ou de fora para dentro, em aulas que acabam levando as crianças e os jovens apenas à decoreba, à memorização de conhecimentos. É muito mais do que isso, pois trata-se de desenvolver o potencial divino que cada um traz. Para isso o evangelizador espírita não pode ser um professor, precisa ser um mestre.

Ampliando o pensamento de Içami Tiba que, é bom lembrar, não é espírita, mas possui uma visão bastante humanizada e, podemos dizer, espiritualizada, da educação, passamos a palavra a Pedro de Camargo, também conhecido por Vínícius (pseudônimo que ele utilizava):

“Mestre é aquele que educa. Educar é apelar para os poderes do Espírito. Mediante esses poderes é que o discípulo analisa, perquire, discerne, assimila e aprende. O mestre desperta as faculdades que jazem dormentes e ignoradas no âmago do ‘eu’ ainda inculto. A missão do mestre não consiste em introduzir conhecimentos na mente do discípulo: se este não se dispuser a conquistá-los, jamais os possuirá.”

Essa fala está publicada no não menos genial e importante livro O Mestre na Educação, onde Pedro de Camargo estabelece diretrizes educacionais seguras à luz do Espiritismo, tendo por base o exemplo e os ensinos de Jesus, o maior dos mestres. Despertar as faculdades, ou potências, do Espírito, é a missão do evangelizador espírita, e não se faz isso apenas ensinando, apenas transmitindo o conhecimento que o Espiritismo nos traz; é necessário fazer com que o evangelizando, seja ele criança ou jovem, queira conhecer, queira conquistar esse conhecimento, percebendo quanto ele é útil para si e para os outros. Despertar a consciência adormecida, fazendo pensar, colocando em prática a regra do “fazer ao outro somente o que se deseja para si mesmo”, é a missão do evangelizador espírita, assim indo muito além de ser um professor, para ser um mestre.

As chamadas aulas de evangelização espírita não deveriam ser aulas. Nesse conceito o evangelizador imita o professor da escola e apenas instrui, repassando o conhecimento doutrinário, ensinando, enquanto o evangelizando ouve e tenta aprender. Não queremos dizer que ensinar é ruim e deveria ser proibido, pois o ensino faz parte do processo de educação, o que estamos defendendo é que esse ensino seja prazeroso, estimulante, fazendo pensar, permitindo que o evangelizando tenha ampla participação e exerça sua criatividade, fazendo da sala de aula um espaço de aprendizagem coletiva, onde o evangelizador será, na verdade, um orientador da aprendizagem, que, por sua vez, não ficará somente na teoria, pois propiciará a prática, a vivência, tão necessária para que a criança e o jovem absorvam os princípios espíritas no seu patrimônio psíquico.

Todo mestre ensina e faz dos alunos verdadeiros discípulos, mas nem todo professor que ensina faz dos alunos seus discípulos. Essa é a diferença capital, profunda, entre o ensinar e o educar. Enquanto estivermos ensinando o Espiritismo e o Evangelho em “aulinhas” de evangelização no Centro Espírita, estaremos muito longe da proposta pedagógica da nossa doutrina, ficando a dever na transformação moral da humanidade através da transformação moral dos indivíduos. Os espíritas mais esclarecidos e que entendem que essencialmente o Espiritismo é doutrina de educação do ser imortal e reencarnado, precisam, de forma urgente, erigir a educação, ou evangelização, como prioridade e, nesse contexto, disponibilizarem cursos, palestras, seminários, congressos sobre educação na visão espírita. Lembremos que, na resposta à questão 796 de O Livro dos Espíritos, os benfeitores espirituais são categóricos: somente a educação pode reformar os homens.

Os professores e evangelizadores precisam ser mestres. Continuar a ensinar, a dar aula, a transmitir conhecimentos, como instrutores, é malbaratar a educação, é fazer da educação um simulacro, substituindo a aprendizagem pela ensinagem. Não é o ensino que transforma, é a educação.

Para finalizar, deixemos que a advertência do Espírito Santo Agostinho, no item 9 do capítulo 14 de O Evangelho Segundo o Espiritismo, fale bem alto ao profundo de nossa alma:

“Oh, espíritas! Compreendei neste momento o grande papel da Humanidade! Compreendei que, quando gerais um corpo, a alma que se encarna vem do espaço para progredir. Tomai conhecimento dos vossos deveres, e ponde todo o vosso amor em aproximar essa alma de Deus: é essa a missão que vos está confiada e da qual recebereis a recompensa, se a cumprirdes fielmente. Vossos cuidados, a educação que lhe derdes, auxiliarão o seu aperfeiçoamento e a sua felicidade futura. Lembrai-vos de que a cada pai e a cada mãe, Deus perguntará: ‘Que fizestes da criança confiada à vossa guarda?’ Se permaneceu atrasada por vossa culpa, vosso castigo será o de vê-la entre os Espíritos sofredores, quando dependia de vós que fosse feliz. Então vós mesmos, carregados de remorsos, pedireis para reparar a vossa falta: solicitareis uma nova encarnação, para vós e para ela, na qual a cercareis de mais atentos cuidados, e ela, cheia de reconhecimento, vos envolverá no seu amor.”

Que esse alerta nos movimente, a nós espíritas, para a urgência da educação, entendida esta como educação moral do espírito imortal, se queremos, de fato, fazer da Terra um mundo de regeneração, onde finalmente o bem predominará sobre o mal, graças a uma educação que destrói na raiz a maior chaga humana de todos os tempos: o egoísmo, substituído que estará pela caridade, pela humildade, pela fraternidade, pela solidariedade, enfim, pelo amor!

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