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Sejamos como os essênios

Autor: Rogério Miguez

Os essênios constituíram uma das seitas judaicas existentes à época de Jesus. Flávio Josefo (37 d.C. – c. 100 d.C.), escritor e historiador judeu, descreve esta seita em sua obra História dos hebreus, situando a sua existência entre os anos de 150 a.C. e 70 d.C., quando possivelmente foram aniquilados ou dispersos pelos romanos.

Por terem sido seguidores fiéis dos antigos mandamentos, com rigorosa observação das então conhecidas Leis de Deus, são considerados por alguns como os precursores do Cristianismo.

Devido a esta interpretação, há aqueles que defendem a tese de que o Cristo teria estado entre os essênios, haurindo ensinamentos necessários ao desempenho de sua gloriosa missão, dada a semelhança com os pensamentos e conduta de Jesus. Entretanto, mesmo os manuscritos do Mar Morto, até agora nada revelaram sobre uma possível estada do Mestre entre a sociedade essênia, visando sua iniciação.

Do ponto de vista espírita, Allan Kardec, em O evangelho segundo o espiritismo, informa sobre os essênios ou esseus:

[…] Pelo gênero de vida que levavam, assemelhavam-se muito aos primeiros cristãos, e os princípios da moral que professavam induziram muitas pessoas a supor que Jesus, antes de dar começo à sua missão pública, lhes pertencera à comunidade. É certo que ele há de tê-la conhecido, mas nada prova que se lhe houvesse filiado, sendo, pois, hipotético tudo quanto a esse respeito se escreveu.1

Ainda em O evangelho segundo o espiritismo, escreve:

Do fato de haver Jesus conhecido a seita dos essênios, fora errôneo concluir-se que a sua doutrina hauriu-a ele na dessa seita e que, se houvera vivido noutro meio, teria professado outros princípios. […]2

Em A Caminho da luz, Emmanuel confirma a posição do Mestre de Lyon:

Muitos séculos depois da sua exemplificação incompreendida, há quem o veja entre os essênios, aprendendo as suas doutrinas, antes do seu messianismo de amor e de redenção. […] O Mestre, porém, não obstante a elevada cultura das escolas essênias, não necessitou da sua contribuição. Desde os seus primeiros dias na Terra, mostrou-se tal qual era, com a superioridade que o planeta lhe conheceu desde os tempos longínquos do princípio. 3

Do que ensina a Doutrina dos Espíritos, sabe-se que podemos e devemos amealhar tesouros que não sejam corroídos e corrompidos pelas traças e pela ferrugem, pois estes são as conquistas que levaremos ao desencarnar. Gradativamente, acumulando estes talentos, ou seja, virtudes e conhecimentos, tornamo-nos cada vez mais aptos e precoces, ao reingressar em uma nova vida corporal.

A nossa História é rica em exemplos, muito bem documentados, e mesmo nos dias de hoje continuamos a observar crianças que jamais receberam qualquer ensino mais aprofundado, apresentando-se como exímios matemáticos, poliglotas, artistas de variada espécie, enxadristas excepcionais, em um atestado inequívoco de que as experiências se acumulam e não se perdem. Quando o Espírito já se encontra com aptidões significativamente desenvolvidas, função de seu esforço continuado ao longo das vidas, se expressa naturalmente como artista ou cientista, sem que jamais tenha tido uma educação formal, ou seja, uma iniciação.

Jesus, como Espírito perfeito que é, certamente possuía estes tesouros totalmente consolidados de modo a prescindir, inquestionavelmente, de qualquer ajuda externa, mesmo em se tratando da comunidade dos essênios, que já naquela época primava pelo exercício continuado das virtudes, ensinando o amor a Deus e ao próximo, a imortalidade da alma e a ressureição.

Ora, sendo Jesus um Espírito puro, também se portou precocemente conforme a sua estatura moral e com os conhecimentos técnicos ou científicos que conquistou em sua majestosa trajetória. Quem poderia ter a pretensão de ensinar-lhe, qualquer que fosse a área de conhecimento, e quem estaria apto a exemplificar moralidades àquele que foi a personificação das virtudes possíveis de serem cultivadas pelas Leis de Deus?

Não faria sentido aceitar que alguém ou qualquer fraternidade tenha tido influência na conduta do Cristo, pois este se portou sempre tal qual era, um Espírito sobre quem Emmanuel afirma, em O consolador:

Nele cessaram os processos, sendo indispensável reconhecer na sua luz as realizações que nos compete atingir.4

Recentemente, pela psicografia de Divaldo Franco, a inesquecível poetisa baiana Amélia Rodrigues houve por bem trazer novas informações sobre Jesus. Nos dizeres dela mesma, consta no livro A mensagem do amor imortal:

Este não é mais um livro sobre alguns fatos da vida de Jesus. É um conjunto de recordações hauridas nos alfarrábios do Mundo Espiritual e nas memórias arquivadas em obras de incomum profundidade por alguns de seus apóstolos e contemporâneos, encontradas nas bibliotecas do Mais Além, que trazemos ao conhecimento dos nossos leitores […].5

Neste mesmo livro,entre outras preciosas descrições, informa que Jesus de fato conhecia os essênios, todavia, jamais convivera com eles. Entretanto, do que ela pode perceber, Jesus esteve com 150 essênios, quando, solitário, foi até Qumran, para entre outras lições, informá-los do início de sua missão.6

Entre os ensinos reafirmados por Jesus àquela singular comunidade, houve esta:

“Tende tento, para não serdes iludidos, confundidos pelos maus e astutos”, advertência esta tão necessária nos dias atuais, com a invasão dos falsos Cristos e falsos profetas, encarnados como médiuns, em conjunto com os Espíritos pseudossábios da erraticidade.

Amélia Rodrigues destaca ainda que uma das virtudes destes seguidores das Leis de Deus era o hábito da oração. Oravam regularmente três vezes ao dia, e se lhes ocorria algum pensamento negativo em relação aos seus irmãos, logo se refugiavam no conforto da prece. Rezavam mesmo durante a noite. Assim o faziam, pois perceberam que o hábito de orar é fundamental e imprescindível para a conquista da vida plena que todos almejamos. Contudo, não permaneciam extáticos diante das belezas do mundo, cultivavam igualmente ações muito dignas.

Vê-se assim mais uma vez a coerência dos ensinos, trazidos aqui e ali, ao longo do tempo: Allan Kardec enfatiza que Jesus prescindiu dos essênios para o cumprimento do seu messianato; Emmanuel ratifica este fato e Amélia Rodrigues, além de confirmar a posição já conhecida, acrescenta uma novidade, informando em que condições Jesus com eles esteve. Esta visita do Mestre, contudo, não invalida de modo algum o que já era conhecido pela Doutrina.

E nós outros, o que precisamos a mais para conduzir-nos também com retidão? No passado, temos o registro histórico de inúmeros missionários na caminhada da humanidade que têm nos ajudado a enxergar o lado espiritual da vida; tivemos a oportunidade de contar com a presença do Mestre por alguns anos aqui na escola Terra; após Allan Kardec, com a sua tarefa singular plenamente cumprida, estiveram aqui inúmeros outros Espíritos, trazendo mensagens esclarecedoras de toda ordem, tudo em nosso benefício. Enquanto isso, a comunidade essênia, há mais de dois mil anos, mereceu a vista particular de Jesus para estimulá-los em suas práticas e incentivá-los e, se podemos resumir o objetivo daquela visita, conforme a narrativa de Amélia Rodrigues, dizer aos essênios que continuassem sendo apenas essênios, visto que eles já apresentavam um comportamento ilibado em todos os sentidos.

Desta imortal lição, resta-nos clamar: sejamos também como os essênios!

REFERÊNCIAS:

1 KARDEC, Allan. O evangelho segundo o espiritismo. Trad. Guillon Ribeiro. 130. ed. 2. reimp. Rio de Janeiro: FEB,  2012. Introdução, it. 3,  Notícias históricas.

2______. ______. it. 4, Sócrates e Platão, precursores da ideia cristã e do Espiritismo.

3 XAVIER, Francisco C. A caminho da luz. Pelo Espírito Emmanuel. 37.ed. 4. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2012. cap.12, it. O Cristo e os essênios.

4 ______. O consolador. Pelo Espírito de Emmanuel. 28. ed. 5. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2011. q. 327.

5 Franco, Divaldo P. A mensagem do amor imortal. Pelo Espírito Amélia Rodrigues. Salvador: Leal, 2008. Introdução.

6 ______. ______. cap.28, Jesus entre os essênios.

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