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Um dia, dois Pais

Autor: Rogério Miguez

Quando o filho humilde encontrou-se indeciso na estrada da vida, assustado com algumas situações inusitadas, receoso em tomar esta e não aquela decisão, sem saber qual rumo trilhar, reconhecendo-se ainda inexperiente diante de tantos quadros inesperados e complexos – alguns característicos da vida – beirando o desespero, indagou pensativo: Quem poderá ajudar-me nesta hora de tanta indecisão? Qual prestativa mão devo buscar?

Neste instante de reflexão íntima, o filho, estático, com os olhos vagando pela imensidão dos céus, aos poucos foi delineando em sua mente, primeiro apenas algumas poucas linhas faciais, logo, pôde identificar os traços de uma figura muito bem conhecida. Finalmente, delineou a face de seu amado e inesquecível pai.

A figura paterna formou-se enfim e, sem hesitar, para ele célere dirigiu-se, esperançoso. Quem sabe poderia mais uma vez, junto ao seu querido genitor, encontrar orientações às suas inquietações, revivendo o passado, quando obteve tantas respostas às indagações formuladas durante a sua inolvidável e frágil infância.

É de nossa índole dividir as preocupações, compartilhar as dúvidas. Parece que ao sermos criados algo latente, dentro de nós, nos impulsiona a repartir momentos, conjunturas, estados íntimos. É como se quem nos criou desejasse que nós, as suas muitas amadas criaturas,  ajudássemo-nos uns aos outros continua e mutuamente. Muitas vezes, a imagem do pai surge naturalmente, afinal foi aquela enorme mão que apertamos fortemente com as nossas pequeninas quando, espantados, não entendíamos os fatos da vida. Ele ainda surge como a salvação e a solução para estes momentos delicados em nossa existência, agora adulta.

Contudo, a vida é tão generosa, estende seus dadivosos braços de forma tão fraterna que, se observarmos cuidadosamente, atentamente, poderemos notar surpresos que contamos, quando ainda encarnados, não com um, mas com dois pais: o biológico, compartilhando conosco as cotidianas experiências materiais da existência e o outro eterno e Grandioso Pai, o Deus de infinita bondade.

Ao pai da Terra agimos como descrito, buscando-o para orientação, conselho, ajuda financeira, opinião sobre variadas questões materiais, dúvida relativa à saúde, diversas situações do cotidiano, até questões afetivas, nada de anormal. Por esta razão o Grande Pai criou este mecanismo de agrupamento de alguns Espíritos em famílias, ciclicamente, com dois elementos centrais, o pai e mãe, para juntos, tentarem criar e educar seus filhos, generosos empréstimos de Deus, conduzindo-os dentro do possível à uma vida equilibrada e profícua no seio da particular sociedade em que compartilham a jornada.

Nós, filhos que somos, sabemos como este mecanismo funciona; aqueles que ainda possuem seus pais encarnados, mesmo com o passar dos anos recorrem, eventualmente, à sabedoria, gentileza e paciência daquelas cabeças encanecidas para tentarem bem conduzir-se no dia a dia.

Contudo, às vezes, também sabemos, há questões transcendendo o conhecimento de nossos pais biológicos, situações extremamente intrincadas, dúvidas existenciais, uma vez que eles não alcançaram a perfeição e ainda possuem as suas limitações na compreensão de alguns delicados temas da vida.

Assim sendo, como deveria proceder nestas horas o humilde filho, diante destas circunstâncias que fogem ao domínio do conhecimento e experiência dos sempre adorados pais?

Precisaria recorrer à Soberana Sabedoria!

Entretanto, agora, o humilde filho indagaria: Como dirijo-me a Ele? Onde é a sua moradia? Nem sei mesmo onde está!? Se o filho não é orgulhoso a ponto de negar a existência do Magnânimo, crê em uma Entidade acima de todos nós, busca-O naturalmente, mas de que forma?

Há uma atitude infalível, uma conduta natural, um ato instintivo, um procedimento dos mais simples, como a água fresca e cristalina correndo no riacho saciando a nossa sede: através da oração podemos entrar em contato com Ele, conforme foi tão bem ensinado pelo humilde Carpinteiro, quando mostrou-nos como conversar com o Pai nosso que está nos céus.

Orar, é um ato de profunda ligação íntima, uma consulta, um agradecimento, uma expressão de louvor Àquele que nos criou, todavia, Incriado.

Embora não saibamos quando, muito menos como se deu o maravilhoso fenômeno da criação, alguns de nós já entendemos que este ato foi como o acender de mais uma luz em potencial, que certamente brilhará no futuro, ou seja, nós mesmos, Espíritos imortais.

Por esta razão, Ele gravou na nossa essência espiritual, uma…, como se diz…, pequenina centelha, minúscula chama, uma partícula divina, e Ele sabe que ela inexoravelmente crescerá, florescerá altiva, pujante, oferecendo flores mil, de aromas agradabilíssimos.

E o filho,  em uma demonstração instintiva e inequívoca de gratidão Àquele que, no momento ainda é um desconhecido, faz, mais cedo ou mais tarde, brotar robusta esta flama. Entretanto, alguns já o percebem bem próximo, pois, ao aguçarem a sensibilidade, sempre O notam. Sim, Ele ali está, paciente, dedicado, prestativo, em suma amoroso, inspirando-nos confiança e certeza absoluta de sermos personagens importantes na Sua inigualável obra, que vem desenrolando-se pelo infinito neste teatro deslumbrante da vida.

O ato de orar é uma entrega incondicional do filho à infinita sabedoria do Senhor. É um momento de reconhecimento de que nada podemos fazer sem Ele e, se já alcançamos um certo grau de percepção mais aprimorado da grandiosidade da vida, reconhecemos igualmente que tudo fazemos por Ele, e apenas por Ele.

Filhos que todos somos, jamais sejamos ingratos a ponto de não dedicar diariamente alguns minutos de oração, como o pão nosso de cada dia ingerido a cada novo amanhecer, breve que seja, para demonstrar o nosso imenso reconhecimento por tudo o que nos acontece: sejam as alegrias mais contagiantes e vibrantes ou, às vezes, algumas tristezas que só acontecem quando nos distanciamos desta sutil ligação, que deveríamos manter constantemente com o Criador do Universo.

É pelo exercício deste ato sincero de orar, aprendendo aos poucos como estabelecer esta boa sintonia com a Divina Bondade, revigorando sempre este religamento, esquecido e perdido nas brumas do tempo, que:

  • fortalecemo-nos interiormente, fazendo brilhar intensamente aquela centelha íntima, a minúscula parte divina habitante em nós;
  • obtemos energias renovadoras para seguir destemidos nesta fascinante jornada rumo à pureza espiritual;
  • a tranquilidade e a paz no coração reaparecem como que por encanto, em um passe de mágica;
  • reacendemos a tão enfraquecida esperança, nestes tempos de duras e aparentemente enigmáticas provações, quando os horizontes se fazem distantes e desconhecidos;
  • as oportunas intuições de nossos guias espirituais podem ser recebidas com maior clareza, ajudando-nos, com renovadas ideias para enfrentar as tantas dificuldades do cotidiano;
  • passamos a ver a realidade com outra visão, mais otimistas, a vida se colore, vão-se os cenários cinzas-escuros;
  • a noite de sono volta a ser tranquila, serena, e os tão reconfortantes sonhos com os anjos reaparecem mais uma vez.

São tantas as dádivas recebidas durante uma oração que seria impossível enumerá-las todas. Quem ora sabe o que já obteve, quem ora sabe como faz bem, quem ora já percebeu como funcionam as leis de Deus, sempre invariavelmente em nosso favor, pois com este objetivo Ele as criou.

E ao orar, no entanto, lembremos de uma oração tantas vezes esquecida – sem preocuparmo-nos com os infindáveis e muitas vezes absurdos e estravagantes pedidos, os reclamos mais disparatados que costumamos fazer -, quando há apenas o louvor ao Senhor da Vida, enaltecendo-O, nada mais, santificando o Seu nome, apenas um sentimento íntimo de profunda gratidão, reconhecimento patente de nossa pequenez diante de tão Magnânima Entidade, submetendo-nos incondicionalmente à Sua vontade, seja na Terra como nos céus.

Conversemos com a Celeste Misericórdia naturalmente, como conversamos tantas vezes com os nossos pais, uma conversa edificante, construtiva, plena de verdade. Nada há de místico, é um simples relacionamento entre Pai e filho, que deve ser realizado com doçura, sinceridade e nada mais.

O Pai da Vida é um manancial infinito de água pura e saborosa, à disposição de todos os sedentos do Universo. Contudo, para beber desta água precisamos juntar cuidadosamente as mãos em concha e, direcionadas ao mais alto, aos poucos, retirar porções deste precioso e verdadeiro líquido da vida, da mesma forma como Jesus tão bem ensinou. E mais, o Cristo afirmou: se a bebêssemos, jamais teríamos sede novamente.

Assim, por que ter sede? Oremos, hoje e sempre!

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