Uma noite histórica no nosso estudo sistematizado

O que é orgulho para você? Uma reflexão sobre diversidade, doutrina espírita e acolhimento nas casas espíritas

Na última terça-feira, o grupo Jovens com Yvonne + Juventude Espírita promoveu um encontro marcante. Com o tema “Maquia e Fala: A Beleza da Diversidade”, o encontro deu espaço para escuta, acolhimento e reflexão sobre questões de gênero, orientação sexual, espiritualidade e pertencimento nas casas espíritas.

Este não foi apenas um evento. Foi um marco simbólico, afetivo e pedagógico. Provocou nos participantes uma compreensão mais ampla da doutrina espírita enquanto ferramenta de acolhimento e evolução espiritual e social. Infelizmente, também evidenciou o quanto ainda precisamos de espaços como esse: algumas pessoas decidiram sair do grupo ao saber da proposta da roda de conversa, o que apenas reforça a urgência de ampliar o diálogo dentro do movimento espírita. Além disso, alguns participantes relataram que em suas casas espíritas não existe espaço para esse tipo de conversa, o que aponta para uma fragilidade na abordagem de temas que fazem parte da vida e do cotidiano de muitos frequentadores.

Por que falamos sobre diversidade?

Falar sobre diversidade nas casas espíritas é falar sobre a aplicação prática do Evangelho. Não se trata de militância político-partidária, mas de coerência com os princípios de fraternidade, inclusão e caridade. O educador espírita tem a missão de compreender as realidades do mundo que nos cerca e de oferecer um espaço seguro e acolhedor, onde a dignidade humana não seja ferida.

Como afirma Andrei Moreira, em Homossexualidade sob a ótica do espírito imortal:

“O amor é o princípio vital da vida. Amar é cuidar, acolher, respeitar, proteger. E não há caridade que se sustente sobre exclusão.”

A educação espírita, como proposta libertadora e progressista, deve considerar as múltiplas expressões da identidade humana, compreendendo que todos os seres estão em constante processo evolutivo e merecem acolhimento e respeito em qualquer fase da jornada espiritual.

As obras básicas nos amparam

A doutrina espírita é clara quanto à igualdade espiritual. Na questão 115 de O Livro dos Espíritos, Kardec pergunta se todos os espíritos são criados iguais, e os mentores respondem:

“Sim, todos são criados simples e ignorantes, com igual aptidão para progredir.”

Na questão 803:

“Todos os homens são iguais perante Deus. As distinções que se estabelecem entre eles são convenções humanas.”

Essas lições revelam que o preconceito é uma construção cultural e histórica, e não espiritual. Cabe ao movimento espírita superá-lo por meio do esclarecimento e da vivência do amor ensinado por Jesus.

O que disseram os participantes

A repercussão do encontro foi imediata e emocionante. Compartilhamos abaixo algumas falas:

“Simplesmente maravilhoso ter um espaço livre para falar sobre temas polêmicos. O Flávio é lindo. Inspirador. Amei. E simbora fazer arte!”

“Me fez chorar, pensar em amigos e primos que passam por situações difíceis. Me fez ver que a luta pela igualdade deve continuar. Já demos alguns passos, mas há muito a caminhar.”

“A cada encontro, vocês reafirmam que aqui tem acolhimento e amor de sobra. É um lugar onde posso me sentir segura.”

“Foi meu primeiro encontro. Vim pelo tema. Sou evangelizadora e tenho esperança de que um dia poderemos falar sobre qualquer assunto nas casas espíritas. Que o espiritismo seja, de fato, uma doutrina de inclusão.”

Esses relatos evidenciam o impacto pedagógico da atividade: quando há escuta verdadeira, nasce o sentimento de pertencimento. Isso é essencial na formação ética, moral e espiritual dos indivíduos, principalmente dos jovens que buscam espaços de referência e apoio.

Espiritismo não é silêncio. É esclarecimento.

Evitar temas como diversidade não é neutralidade, é omissão. O silêncio, muitas vezes, legitima o preconceito. A juventude espírita quer uma doutrina viva, que compreende o tempo em que está inserida e atua como instrumento de transformação social e espiritual.

Como bem resume um dos relatos: “Não queremos mudar o mundo inteiro, mas começar por nós mesmos e ao nosso redor, sem julgamento, com respeito.”

Conclusão

Esse não foi um encontro qualquer. Foi um marco educativo, espiritual e afetivo que nos mostra que sim, é possível falar de tudo dentro da casa espírita, com leveza, respeito, doutrina e compromisso com a verdade. Falar sobre diversidade é falar de amor, é viver o Evangelho na prática.

Seguimos com Kardec na mente, Jesus no coração e a coragem de continuar abrindo espaços de escuta, aprendizado e acolhimento.

Com afeto, consciência e firmeza,

Caue Sanchez
Coordenador Pedagógico
Jovens com Yvonne + Juventude Espírita

AMOR NÃO É CRIME.PRECONCEITO, SIM