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Amor em crescimento

Autor: Marcus De Mario

Quando Jesus pronunciou o “amai-vos uns aos outros”, deu-nos como parâmetro o amar a todos sem distinção, pois não especificou a quem se deve amar, pois se o fizesse estaria sancionando o preconceito e a discriminação. Ele não disse, por exemplo, que devemos amar apenas nossos irmãos e irmãs em crença, ou que nosso amor devesse ser direcionado somente à família. Ele conclamou que nos amemos indistintamente, pois acima de tudo, de todas as considerações meramente humanas, convencionais e culturais, somos filhos do mesmo Pai, que é Deus, e, portanto, somos irmãos. Não há retórica religiosa, acadêmica ou filosófica, que possa dar outra interpretação ao ensino de Jesus, embora tenhamos que reconhecer que no contexto histórico conseguimos deturpar esse ensino, chegando mesmo a colocar o amor ao próximo em segundo plano nas cogitações da vida cotidiana. Mas isso é apenas um desvio, e muito fraco, para conseguir ofuscar a chegada ao porto seguro indicado pelo Mestre.

Nos caminhos da vida muitos se perdem em desvios e atalhos, renegando os ensinos do Enviado de Deus, mas voltam, com o tempo, a encontrar o amor, entregando-se a Jesus através dos aprendizados facultados pela dor e pelo sofrimento, acontecimentos que são consequência das escolhas feitas, no funcionamento perfeito da lei divina, onde nunca deixamos de assumir as responsabilidades pelas ações que livremente realizamos. Nesse contexto, muitos se algemam ao egoísmo, considerando-se donos desta e daquela alma, deixando-se levar pelo ciúme doentio, ou se deixam levar por radicalismos e fanatismos, criando ódios e perseguições que não se justificam. São todos aprendizes do amor, momentaneamente enfermos da alma, necessitados da nossa compreensão e compaixão, pois nós mesmos, os que agora possuímos um melhor equilíbrio consciencial, já estivemos, em vidas passadas, do lado dos tormentos da alma, vencidos graças à nossa entrega, mesmo que parcial, ao Evangelho.

E falando do amor e da reencarnação, no contexto da pluralidade das existências, temos em O Evangelho Segundo o Espiritismo, capítulo XI, excelente abordagem do Espírito Fénelon, nos seguintes termos:

Há algumas pessoas a quem repugna a prova da reencarnação, pela ideia de que outros participarão das simpatias afetivas de que são parte. Pobres irmãos! O vosso afeto vos torna egoístas. Vosso amor se restringe a um círculo estreito de parentes ou de amigos, e todos os demais vos são indiferentes. Pois bem: para praticar a lei do amor, como Deus a quer, é necessário que chegueis a amar, pouco a pouco, e indistintamente, a todos os vossos irmãos. A tarefa é longa e difícil, mas será realizada. Deus o quer, e a lei do amor é o primeiro e o mais importante preceito da vossa nova doutrina, porque é ela que deve um dia matar o egoísmo, sob qualquer aspecto em que se apresente, pois além do egoísmo pessoal, há ainda o egoísmo de família, de casta, de nacionalidade. Jesus disse: “amai ao vosso próximo como a vós mesmos”; ora, qual é o limite do próximo? Será a família, a seita, a nação? Não: é toda a humanidade! Nos mundos superiores, é o amor recíproco que harmoniza e dirige os Espíritos adiantados que os habitam. E o vosso planeta, destinado a um progresso que se aproxima, para a sua transformação social, verá seus habitantes praticarem essa lei sublime, reflexo da própria Divindade.

Voltemos nossa atenção para o trecho “a lei do amor é o primeiro e o mais importante preceito da vossa nova doutrina”, alusão feita ao Espiritismo, que tem por missão resgatar os ensinos morais de Jesus em espírito e verdade, trazendo a realidade imortal da vida e elegendo o amor, através da caridade, como roteiro para nossa redenção. Os dirigentes dos Centros Espíritas devem atentar para essa fala feita por um Espírito Superior, inserida por Allan Kardec na obra da codificação espírita, pois o desenvolvimento do amor deve ser trabalho constante, propiciado não apenas pelo estudo, mas também pela prática, pelas vivências nas múltiplas atividades realizadas na instituição, e que devem ser levadas pelos espíritas para o cotidiano familiar e social.

O verdadeiro espírita, como bom cristão, não pode apoiar nenhum tipo de violência, nenhum tipo de preconceito, nenhuma ideologia extremista, pois tudo isso é incompatível com o Cristianismo e com o Espiritismo, onde aprendemos que o amor deve reger a vida, e o amor deve abranger todos os seres humanos, todos os que fazem a humanidade, quer estejam encarnados ou desencarnados.

Amar é compreender, é tolerar, é renunciar, é ser fraterno, mas é também corrigir, dar bons exemplos e educar, orientando moralmente os que reencarnam, para que assim possamos ter uma humanidade melhor a cada nova geração. A reencarnação não rompe os laços afetivos, expande-os ao infinito na medida em que o amor cresce, fica cada vez mais abrangente.

Tomemos cuidado com mágoas, ressentimentos, pequenas raivas e falas que desejam vingança, assim como atitudes de afastamento, de separação, que podem nutrir o ódio. Tudo isso é contrário ao amor ensinado por Jesus.

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