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Doutrina da reencarnação entre os Hindus

Revista Espírita, dezembro de 1859

Pensa-se, geralmente, que os Hindus não admitem a reencarnação senão como uma expiação, e que, segundo eles, ela não pode se operar senão no corpo de animais.

Entretanto, as linhas seguintes, extraídas da viagem da senhora Ida Pfeiffer, parecem provar que os Indianos têm ideias a esse respeito.

“As filhas, diz a senhora Pfeiffer, comumente, ficam noivas desde o seu primeiro ano. Se o noivo vem a morrer, a jovem é considerada como viúva, e, a esse título, não pode mais se casar a viuvez é tida como uma grande infelicidade. Crê-se que é a posição das mulheres cuja conduta não foi irrepreensível numa vida anterior.

Apesar da importância que não se pode recusar a essas últimas palavras, é necessário reconhecer que há, entre a metempsicose dos Hindus e a doutrina admitida pela Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, uma diferença capital. Citemos aqui o que diz Zimmermann sobre a religião hindu no Journal dês Voyages (Taschenbuch der Reisen).

“O fundo dessa religião é a crença num ser primeiro e supremo, na imortalidade da alma, e na recompensa da virtude. O verdadeiro e único Deus se chama Brahm, que não se pode confundir com Brahma, criado por ele. É a verdadeira luz, que é a mesma, eterna, feliz em todos os tempos e em todos os lugares. Da essência imortal de Brahm emanou a deusa Bhavani, quer dizer, a natureza, e uma legião de 1.180 milhões de Espíritos. Entre esses Espíritos, há três semi-deuses ou gênios superiores: Brahma, Vichnou e Shiva, a trindade dos Hindus. Por longo tempo a concórdia e a felicidade reinaram entre os Espíritos; mas, em seguida, uma revolta estourou entre eles, e vários recusaram obedecer. Os rebeldes foram precipitados do alto do céu aos abismos das trevas. Então ocorreu a metempsicose: cada planta, cada ser foi animado por um anjo decaído. Essa crença explica a bondade dos Hindus para com os animais: eles consideram-nos como seus semelhantes e não querem matar nenhum.

“Somos levados a crer que não foi senão depois de muito tempo que tudo o que há de bizarro nessa religião mal compreendida, e falseada na boca do povo, desceu à categoria de louca hipocrisia. Bastará indicar os atributos de algumas principais divindades para explicar o estado atual de sua religião: admitem 333 milhões de divindades inferiores:

são as deusas dos elementos, dos fenômenos da Natureza, das artes, das doenças, etc. Há, por outro lado, os bons e os maus gênios: o número dos bons ultrapassa o dos maus em 3 milhões.

“O que é excessivamente notado, acrescenta Zimmermann, é que não se encontra, entre os Hindus, uma só imagem do ser supremo: parece-lhes muito grande. Toda a Terra, dizem, é seu templo e eles o adoram sob todas as figuras.”

Assim, segundo os Hindus, as almas tinham sido criadas felizes e perfeitas, e sua queda foi o resultado de uma rebelião; sua encarnação no corpo de animais é uma punição.

Segundo a Doutrina Espírita, as almas foram, e são ainda, criadas simples e ignorantes, e é por encarnações sucessivas que elas alcançam, graças aos seus esforços e à misericórdia divina, uma perfeição que pode dar-lhes, só ela, a felicidade eterna A alma, devendo progredir, pode permanecer estacionaria durante um tempo mais ou menos longo, mas não retrogada: o que adquiriu em ciência ou moralidade, não o perde. Se ela não avança, também não recua: por isso não podem retornar animando seres inferiores à Humanidade. Assim, a metempsicose dos Hindus está fundada sobre o princípio da degradação das almas; a reencarnação, segundo os Espíritos, está fundada sobre o princípio do progresso sucessivo. Segundo os Hindus, a alma começou pela perfeição para chegar à abjeção; a perfeição é o início e a abjeção o resultado. Segundo os Espíritos, a ignorância é o início, a perfeição é o objetivo e o resultado. Seria supérfluo procurar demonstrar qual das duas doutrinas é a mais racional e dá mais alta ideia da bondade e da justiça de Deus. É, pois, por uma completa ignorância de seus princípios que algumas pessoas as confundem.

Senhor TUG

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