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Espíritos da Natureza

Autor: Eurípedes Kuhl

Consta das tradições mais antigas que, diante dos fenômenos da Natureza, principalmente os que causavam danos (devastação e mortes coletivas, quase sempre), o homem imaginou, como a única forma de se defender, demonstrar submissão irrestrita aos responsáveis invisíveis (considerados “seres da Natureza”).

Vem daí, diante de praticamente todos os acontecimentos naturais, a criação de deuses, bons e maus, poderosos, todos. Inaugurando de forma rústica a prece, as tribos imploravam proteção a tais divindades, com demonstrações, ora de medo e respeito, ora de amor, não raro com sacrifícios de animais e até de humanos.

O número desses seres da natureza, no caminhar incessante do progresso, multiplicou-se folcloricamente quase que ao infinito, segundo as várias crenças/religiões, sendo impraticável citar todos, apenas num artigo.

Cito alguns, dos mais conhecidos, com seus comportamentos:

Duendes

entidades fantásticas das lendas bretãs, brincalhonas, amigáveis, com capacidade de atravessar paredes, teletransportar objetos e pessoas, dotados de alta velocidade;

Gnomos

Representados como pequenos humanoides, vivendo sob a terra, em minas ou em ocos de troncos de árvores, onde guardam seus tesouros;

Fadas

Cuidam das flores e dos frutos, ligados à terra;

Elfos

Gênios do folclore escandinavo, sensíveis, de longa vida ou imortalidade, com poderes mágicos de curar pessoas, eram divindades maiores da natureza e da fertilidade;

Ninfas, Ondinas, Sereias

Vivem em rios, ou lagos, ou mares.

Esse imaginário místico e folclórico (aqui com registro sintético de suas peculiaridades) sofreu inflexão[1] quando foi substituído pelas reflexões dos sábios da Antiguidade, na Grécia Antiga, na China, na Índia, e outros que, estudando as tradições relativas à origem e formação do mundo, deduziram haver regência de quatro elementos naturais, essenciais à vida humana no planeta Terra:

Fogo

Estado de plasma, regente do Reino Mineral, do Verão e da Lua Nova;

Terra

Estado sólido, regente do Reino Vegetal, da Primavera e da Lua Crescente;

Ar estado gasoso, regente do Reino Animal, do Outono e da Lua Minguante;

Água

Estado líquido, regente do Reino Humano, do Inverno e da Lua Cheia.

Em nova inflexão, indo dos sábios da Antiguidade ao século XIX, faço parada junto à monumental obra de ensinamentos e premissas doutrinárias/cristãs de Espíritos sábios e protetores que, por delegação do Excelso Mestre Jesus, fizeram aportar na Terra o Espiritismo.

Para organizar e metodizar tal aporte, sublime, contendo incontáveis ensinamentos trazidos por Espíritos superiores, foi delegada a respectiva codificação a um influente educador, autor e tradutor francês, culto membro das sociedades científicas francesas: Hippolyte Léon Denizard Rivail (1804-1869) que,  para tanto, adotou o pseudônimo de Allan Kardec e escreveu vários livros, com o que diferenciou suas obras pedagógicas desse novo abençoado projeto.

O primeiro livro de Allan Kardec, sobre a Codificação espírita é ”O Livro dos Espíritos” (“OLE”) econtém: os princípios da Doutrina Espírita sobre a imortalidade da alma, a natureza dos Espíritos e suas relações com os homens, as Leis Morais, a vida presente, a vida futura e o porvir da humanidade.

Em “OLE” há capítulo específico sobre os fenômenos da natureza. Com todo respeito às crenças e tradições, esclarece[2]:

Questão nº 536

– Tudo tem uma razão de ser e nada acontece sem a permissão de Deus;

– Na maioria dos casos, tais acontecimentos têm por único motivo o restabelecimento do equilíbrio e da harmonia das forças físicas da Natureza;

– Os Espíritos que exercem ação sobre a matéria são os agentes da vontade de Deus, existentes em todos os graus da escala dos mundos;

Questão nº 537

– Os Espíritos que presidem os fenômenos geológicos não habitam positivamente a Terra. Presidem aos fenômenos e os dirigem de acordo com as atribuições que têm;

– Dia virá em que recebereis a explicação de todos esses fenômenos e os compreendereis melhor;

Questão nº 538

– OsEspíritos que presidem aos fenômenos da Natureza foram, ou serão, encarnados como nós;

Questão nº 539

– Tempestades, por exemplo, são produzidas por massas inumeráveis de Espíritos;

Questão nº 540

– Alguns Espíritos (nem todos) que exercem ação nos fenômenos da Natureza usam do livre-arbítrio e operam com conhecimento de causa.

Nota

Nas questões 737 a 741, ainda de “OLE”, em paralelo ao tema dos fenômenos na Natureza, estão registradas as respostas dos Espíritossuperiores sobre o motivo dos “Flagelos destruidores”, invariavelmente alicerçadas noAmor de Deus pela Humanidade, contendo ensinamentos utilíssimos sobre as Leis Divinas de Justiça e de Progresso.

Em complemento aos ensinamentos da Codificação do Espiritismo, dou outro salto cronológico, para extrair mais apontamentos sobre o tema tratado neste artigo, contidos na série “A vida no mundo espiritual”. Refiro-me à maravilhosa obra de autoria espiritual de André Luiz, psicografia de Francisco C. Xavier (em todos os 13 livros) e do Dr. Waldo Vieira (em alguns), todos com edição da FEB (Federação Espírita Brasileira):

Livro “Nosso Lar”

no cap. 50, p. 279, 48ª Ed., 1.998, Narcisa (Espírito protetor em “Nosso Lar”) atende solicitação de André Luiz, para atender Ernesto, encarnado, atual marido de sua viúva… Narcisa conduz André à Natureza e diz que colherá remédio das árvores, enormes frondes; a seguir chama alguém e atendem-na oito entidades espirituais, servidores comuns do reino vegetal que informam onde havia mangueiras e eucaliptos, dos quais a Mensageira colheu e manipulou emanações que, aplicadas ao enfermo, proporcionaram-lhe melhoras sensíveis;

Livro “Os Mensageiros”

Cap. 41, p. 216, 9ª Ed., 1975, o Espírito Aniceto, Instrutor espiritual em “Nosso Lar”, e André, chegam à noite numa propriedade rural, com incontáveis árvores frutíferas, em ambiente de paz! Ali estava grande quantidade de trabalhadores espirituais, servidores que cooperam com o reino vegetal. O Instrutor presta inédita informação: “existem irmãos que se preparam para o mérito de nova encarnação no mundo, prestando serviço aos reinos inferiores;

Livro “Libertação”

Cap. IV, p. 60, 6ª Ed., 1974, Instrutor espiritual Gúbio conduz André a uma “Cidade estranha”, onde havia extensa comunidade de sofredores. O Instrutor esclarece: “Quem não cumpre aqui dolorosa penitência regenerativa, pode ser considerado inteligência sub-humana. Milhares de criaturas, utilizadas nos serviços mais rudes da natureza, movimentam-se neste sítio em posição infraterrestre;

Livro “Evolução em dois Mundos”

1ª Parte, cap. XVII, p. 134, 11ª Ed., 1989, consta que na fase primária da mediunidade, durante o sono, no repouso físico, os médiuns, em corpo espiritual, retornam aos objetos que lhes tomam o interesse: o lavrador, por exemplo, retorna ao campo em que semeia, entrando em contato com as entidades que amparam a Natureza.

Apenas essas breves notas, na minha opinião, dissipam racionalmente quaisquer vestígios de deuses, ou outros autores, para os acontecimentos naturais, ou “sobrenaturais”, e também, principalmente, substituem a noção de “Espíritos da Natureza” por: Espíritos que servem, cuidam e cooperam com a Natureza.

Referências

[1] Inflexão: mudança da direção ou da posição normal; desvio.

[2] Para este artigo sintetizei os esclarecimentos, contudo sugiro visita ao original.

O consolador – Artigos

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