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Flagelos destruidores

Autor: Arthur Bernardes de Oliveira

Periodicamente somos abalados por ocorrências que costumam trazer muito sofrimento a todos nós. Todos os anos, em algum lugar do planeta, ocorrem fenômenos amedrontadores. Enchentes são anuais. Não passa um só verão sem que, em algum recanto da Terra, as enchentes não destruam casas, desmoronem barrancos, matem muita gente.

Furacões são comuns nos Estados Unidos da América destruindo lares, enlutando regiões, fazendo desaparecer patrimônios construídos com tanto sacrifício.  

Tremores de terra têm enlutado inúmeros países. Há poucos anos, só no México, mais de duas mil pessoas desapareceram debaixo de escombros e de inundações. 

Ainda sofrem as conseqüências de um fantástico maremoto três dos nossos continentes de onde desapareceram, debaixo das águas, mais de trezentas mil pessoas.

Raios, no Brasil, ocorrem cem milhões de vezes todos os anos. Alguns matam gente, animais e aves, ou destroem plantações. Pestes, vez por outra, nos visitam, eliminando vidas e provocando muito sofrimento e dor. Guerras, revoluções, atos de terrorismo são comuns o ano inteiro nos mais diversos países.

Ainda hoje, morre muita gente de fome. Doenças sem tratamento desafiam a ciência dos homens.  Secas continuam sacrificando pessoas e regiões. AIDS, tuberculose, câncer e malária prosseguem ceifando vidas e enlutando corações. Flagelos da destruição, próprios do nosso planeta, eliminando sonhos e amargando corações.

Kardec quis saber dos Espíritos por que razão Deus, infinitamente bom e perfeito, permite tais fatos na vida das pessoas. E perguntou: “Com que fim fere Deus a Humanidade por meio de flagelos que destroem tantos sonhos e eliminam tantas vidas?” – “Para fazer a humanidade progredir mais depressa” – disseram os Espíritos. E prosseguiram: “Já dissemos que a destruição é necessária para a regeneração moral dos Espíritos que, em cada nova existência, sobem um degrau na escala do aperfeiçoamento. O homem considera tais eventos como flagelos por causa dos prejuízos que eles costumam trazer. São, entretanto, subversões freqüentemente necessárias para que mais depressa ocorra melhor ordem de coisas, conseguindo-se em alguns anos o que exigiria, talvez, muitos séculos”.

Emmanuel, no livro Religião dos Espíritos, comentando a questão, nos recorda os dez antigos flagelos com que se defrontou a Humanidade e cujo enfrentamento resultou num largo passo no caminho de sua evolução e crescimento cultural.

O primeiro flagelo foi a barbárie. Vivíamos como selvagens, os mais fortes expulsando os mais fracos, tomando-lhes as terras e as provisões. Não havia limites, nem marcos divisórios. Éramos como selvagens sem respeito ao nosso semelhante. Egoísmo e violência caracterizando a vida como se fôssemos animais selvagens. Período de desregramentos de instintos. Surgem múltiplas formas de organização e defesa. Hábitos começam a mudar. Nascem limites territoriais, os estados, as cidades, os reinos.

Depois veio a fome: os bens que a Terra produzia, à revelia dos homens, foram escasseando. Ninguém plantava. Nem tudo se podia colher no mesmo clima ou no mesmo lugar. Surgem a agricultura, o câmbio e o comércio. Trocam-se mercadorias; universalizam-se os costumes. Chega a peste dizimando populações inteiras. É a malária, a varíola, a difteria, a cólera, a tuberculose… Nasce a ciência e traz as vacinas, as drogas, os tratamentos, as curas.

No primitivismo, o homem copia a arte do castor, mas produz muito pouco. A população cresce. Faltam os bens que a ansiedade procura. Aparece a indústria, que aperfeiçoa processos e multiplica o que faz, e os bens começam a sobrar.

A ignorância alenta as trevas do espírito. Como aprender? Como se instruir? Como fazer crescer conhecimento e cultura? Brilha a imprensa e livros começam a brotar. “Livros, livros a mancheias enchendo a terra e o ar. É luz que brilha na mente e põe o povo a pensar” – clama o poeta em seu cantar.

Mas o insulamento mantém os povos e as comunidades apartadas de informações. Os ventos do progresso e da evolução não levam de um ponto a outro seus avanços e suas conquistas. Não se caminham notícias, nem se espalham descobertas. Eis que surgem o telégrafo e a navegação aérea e o mundo se torna uma aldeia global. Vemos, aqui e agora, o que os nossos irmãos no outro lado da Terra estão fazendo nas ruas. De repente todos nos tornamos vizinhos. E o insulamento se esvai.

O consumismo se expande; a vaidade vem junto e a imundície apavora. É o reinado do lixo que continua desafiando a ciência do homem e a incúria dos governos no mundo inteiro. Aparecem tímidas usinas de reciclagem, mas estamos muito longe de vencer essa praga. Lixo que facilita inundações, acelera desmoronamentos e dissemina moléstias de vária sorte.

Finalmente, a guerra que continua desafiando a inteligência e a evolução humana. Não passou, porque ela é produto do egoísmo, do orgulho e do materialismo humano. Só desaparecerá com o progresso de todos nós. Com a implantação da mensagem do Cristo no coração de cada habitante do planeta.

 Kardec perguntou: “Não poderia Deus empregar outros meios – que não os flagelos que nos maltratam tanto – para conseguir a melhoria da Humanidade?” –  “Poderia e os emprega todos os dias” – responderam os Espíritos – “porque deu, a todos, os meios de progredir pelo conhecimento do bem e do mal, mas o homem não se aproveita desses meios. Daí a necessidade de ser sacudido pelo único processo que amansa a sua teimosia e consegue acordá-lo: o sofrimento, linguagem única, infelizmente, que o homem da Terra consegue entender.”

“Mas, nesses flagelos” – continua Kardec- “tanto é atingido o homem bom como o homem mau. É justo isso?” E os Espíritos esclarecem: “Durante a vida, o homem tudo refere ao seu corpo; muito diferente é seu pensamento depois que morre. Conforme temos dito várias vezes, a vida do corpo bem pouca coisa é. Um século no vosso mundo não passa de um relâmpago na eternidade. Nada são os sofrimentos de alguns dias ou de alguns meses de que vos queixais tanto. Representam um ensino que se vos dá e que muito vos servirá no futuro”. 

Assustamo-nos com o número de mortes que costumam ocorrer em conseqüência desses flagelos. São irrelevantes quando os comparamos com o número de mortes que ocorrem, naturalmente, todos os dias, no planeta.

Além disso, tais eventos têm sua necessidade de ordem física e funcionam em obediência a um planejamento superior. Muitos deles mudam as condições de uma região, mas o bem que disso resulta só as gerações futuras conseguirão experimentar e entender. São acomodações de ordem física, porque o planeta ainda não está definitivamente pronto. Há lacunas a preencher; espaços a ocupar; equilíbrios a conquistar. Muitos desses flagelos poderão ser conjurados pelos homens, quando tivermos alcançado conhecimento e postura moral para isso, pois muitos desses flagelos são originados da imprevidência humana.

O consolador – Ano 2 – N 55

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