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Maria, a amorosa mãe do Salvador

Autor: Rogério Miguez

É da vontade do Pai que todas as suas criaturas reencarnem com diferentes corpos em diversos planetas, durante muitas e incontáveis existências, em variados grupamentos familiares e, finalmente, assumam distintas posições dentro da parentela. Todo este processo tem por objetivo atingir, através de ininterrupta evolução, uma perfeição relativa que todos nós estamos destinados a alcançar um dia.

Sendo assim, acreditamos já ter ocupado todas as posições possíveis em uma estrutura familiar, considerando as suas múltiplas possibilidades, visando aprender o que cada uma destas posições proporciona, levando-se em conta as atribuições específicas e pertinentes a cada qual.

Entretanto, uma das funções na família normalmente recebe especial destaque, pois tudo indica ser o centro vital da organização familiar, como em nosso sistema solar, onde os planetas gravitam em torno do Sol. Posição específica para Espíritos de ordinário mais afetuosos, pacientes, cordatos, tolerantes; em suma, amorosos. Esta posição em uma organização familiar é designada por uma pequena palavra, mas de inquestionável valor: mãe.

Todos conhecemos inúmeros exemplos de vidas, onde se registraram relatos de atitudes de extremada dedicação e amor, vivenciados por mães. De modo geral, são Espíritos detentores de uma polaridade psíquica peculiar, construída no passado, caracterizando-se por uma sensibilidade mais apurada.

Em No mundo maior1, há informe de grave caso de obsessão em andamento perdurando por vinte anos só alcançando termo quando se apelou para a interferência de um Espírito “feminino”. Este capítulo é intitulado “O poder do amor”. A inteligência e o poder podem muito, já diz a sabedoria popular, contudo, o amor tudo está a indicar, pode muitíssimo mais, sendo este último frequentemente requisitado a intervir em casos intrincados, de difícil solução. São antigas mães possuidoras deste poder extraordinário capaz de transportar montanhas aparentemente inamovíveis.

Usualmente, podem-se observar estas manifestações natas de ternura e cuidados delicados em muitas mães, assim sendo, imaginemos então quais virtudes deveria ter um Espírito, embora ainda não perfeito, designado para receber pela maternidade outro Espírito, este puro, encarnando em nosso orbe, a Terra?

Seguramente não poderia ser um Espírito de evolução mediana, tais quais somos quase todos, pois, a título de exemplo, sua atmosfera psíquica deveria estar sempre impregnada de fluidos mais puros gerados pela mente, proporcionando desta forma uma gestação adequada à reencarnação deste Espírito perfeito, neste caso, o Rabi da Galileia.

De fato não era e não é um Espírito da terceira ordem2, basta observar o registro de Allan Kardec no “Ensaio de Interpretação sobre a Doutrina dos Anjos Decaídos”, na Revista Espírita3: “Deus enviou um Espírito puro [a Imaculada Conceição], que não pertencia à raça culpada e exilada [de Capela], para encarnar na Terra e desempenhar a sua augusta missão [ser mãe de Jesus], do mesmo modo que, de vez em quando, envia Espíritos superiores que encarnam a fim de impulsionar o progresso e apressar o desenvolvimento do orbe.”

Allan Kardec havia feito anteriormente menção à expressão “Imaculada Conceição”, dogma religioso em defesa da tese de Maria não estar marcada pelo pecado original. Mas qual o significado do pecado original sob a óptica espírita?

O Codificador sugeriu de onde e como apareceu o conceito dessa lenda, entre outras tantas alegorias do passado. Esclarece o sábio de Lyon ter sido uma reminiscência dos Espíritos degredados de Capela por conta da culpa e do sentimento de perda do seu “paraíso”, sua terra natal, de onde foram convidados a deixá-lo provisoriamente reencarnando na Terra, criando desta maneira a noção de pecado primordial, isto é, a razão ou o motivo da “expulsão” de sua amada pátria.

Dentro deste contexto, Maria, nos dizeres de Allan Kardec, não estaria maculada por este pecado original, pois, enfatizamos mais, “não pertencia à raça culpada e exilada” de Capela. Conclui-se assim que, Maria não reencarnou na Terra por conta de deslizes morais ou quem sabe éticos motivadores da “proscrição” de muitos Espíritos habitantes de Capela. Ela não veio à Terra para resgates, mas sim em missão.

Maria certamente não alcançou o seu estágio de evolução em nosso planeta, porquanto, a Terra naquela época ainda se encontrava na fronteira da barbárie, não sendo factível ter este Espírito construído a sua solidez moral e ética em um mundo quase primitivo. Certamente Maria evoluiu em mundos diversos antes de aqui chegar, não sabemos se pela primeira e única vez. É até possível ter vindo de Capela, e de lá migrado em missão, por isso Allan Kardec enfatizou: “[ela] não pertencia à raça culpada e exilada”. Poderia também ser oriunda de outros planetas mais evoluídos, não sabemos, mais uma informação detemos: Maria continua vinculada à Terra, pois, segundo informou Camilo Cândido Botelho, em Memórias de um suicida4, Maria é responsável por uma Legião de Servos encarregados de lidar com suicidas, uma atividade delicada e de significação reconhecida.

Há alguns milênios, junto com outros Espíritos puros responsáveis pelo sistema solar, Jesus havia deliberado encarnar na Terra, aparentemente pela primeira vez, porquanto Ele também não evoluiu na Terra, caso contrário não poderia ser o responsável pela formação do próprio mundo do qual é o governador.

Todavia, para encarnar e ocupar um corpo como o de qualquer Espírito encarnado, precisaria de uma mãe biológica, como todos nós ainda precisamos, de modo a abrigá-Lo em seu ventre durante um processo de gestação natural, não fugindo assim das leis ditadas pelo Criador, dando testemunho real e concreto de sua missão, ao contrário do que se divulga há bom tempo de que o Nazareno possuía um corpo fluídico.

Porém, quem seria o Espírito a desempenhar esta especialíssima missão? Certamente existiam muitos em condições de assumir a posição ocupada por Maria, porém, entre tantos, ela foi a escolhida.

Cabe ainda um comentário adicional referente a esta frase: “Deus enviou um Espírito puro [Maria]…”. Não saberíamos dizer exatamente por qual razão o Codificador teria empregado o adjetivo “puro”, contudo, podemos imaginar que esta “pureza” mencionada pode ser entendida como segue:

  1. Maria era e ainda é um Espírito de altíssima evolução, representando mais um Espírito superior vindo à Terra para nos impulsionar o progresso;
  2. Pode-se entender também esta “pureza” como uma alusão de Maria não ter reencarnado como devedora, conforme explicado anteriormente, ou seja, não tinha “pecados” a resgatar, estava literalmente em missão;
  3. Adicionalmente, se Maria fosse textualmente um Espírito puro, não haveria sentido Allan Kardec fazer a ressalva dela não pertencer ao grupo de Espíritos endividados de Capela. Bastava informar que era pura e todos entenderiam ter ela já alcançado a relativa perfeição, portanto sem máculas ou dívidas a resgatar.

Estes entendimentos se sustentam, pois, até onde sabemos, não há qualquer literatura confiável trazendo informação complementar do plano espiritual de ter Maria de Nazaré alcançado a evolução final que todos estamos fatalmente destinados.

Estas poucas palavras jamais traduzirão a grandiosidade deste superior Espírito, que veio à Terra para nos ensinar, através de sua vida simples, como suportar dificuldades atrozes, vencendo o mundo pelos exemplos oferecidos. Ela foi certamente missionária e tal qual Jesus, não precisava passar por nenhum resgate, entretanto, testemunhou seu Filho amado ser crucifixado em um madeiro de infâmia, tratado como um agitador vulgar, sendo achincalhado pela soldadesca romana e nada podia fazer para abraçá-lo, trazê-Lo ao peito, como toda mãe almejaria ardentemente fazê-lo naquela hora grave em que passava toda a Humanidade, quando Jesus se despedia de todos os que tiveram o privilégio de conviver com Ele durante aqueles tempos inesquecíveis.

De nossa parte, inspiremo-nos nestes Espíritos missionários, como Maria de Nazaré, e sigamos em frente, jamais esmorecendo diante das lutas e embates que a vida ainda certamente nos trará, e quem sabe, no futuro, ao término de mais esta existência, guardada a distância do testemunho vivido por Maria, poderemos também nos apresentar como humildes vencedores do mundo, tal qual Maria de Nazaré o fez com inquestionável valor.

Referências

1 XAVIER, Francisco C.No mundo maior. Pelo Espírito André Luiz. 19. ed. Rio de Janeiro: FEB Editora, 1994. cap. 5.

2 De acordo com a escala espírita, os Espíritos se dividem em três ordens, sendo a terceira a mais baixa e a mais alta a primeira, esta constituída apenas de Espíritos puros.

3 KARDEC, Allan. Revista Espírita:  jornal de estudos psicológicos. ano 5, n.1, jan. 1862.

4 Pereira, Ivonne A.Memórias de um suicida. Camilo Cândido Botelho. 4. ed. Brasília: FEB Editora, 2005. Primeira parte – Os Réprobos – O vale dos suicidas.

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