Autor: Rogério Miguez
A questão da morte sempre intrigou o homem, que, atônito, buscou dela se afastar a todo custo.
Não foi fácil enfrentá-la no passado e, por conta do avanço do materialismo sobre as mentes fracas e despreparadas, o momento da temida e entendida destruição final e fatal, aterroriza a todos. Além da lamentável contribuição dos defensores da unicidade da existência, as religiões ofereceram significativa contribuição ao proporem a possibilidade do crente cometer em vida pecados irremissíveis. Aos imperdoáveis, informa sobre locais no espaço dedicados ao aprisionamento desses infelizes infratores, submetendo-os ainda ao sofrimento eterno.
Em paralelo às propostas destas filosofias ou ideologias religiosas, há uma minoria que já entende não haver a destruição total do ser pensante após a chegada da morte, e ela virá inexorável. Já sabem também não existir locais de dores perpétuas, pois o Criador sempre promove, por todos os meios, a reabilitação do pecador, afinal, nenhuma ovelha do rebando se perderá e o Magnânimo não deseja a morte do pecador, mas sim a sua reabilitação.
Contudo, alguns, entre esses que já compreendem não haver a morte – ao invés, apenas vida -, criaram uma ilusão de que com a morte, tudo se resolverá. Os problemas materiais desaparecerão, darão adeus às doenças, não sentirão mais as pressões diárias provocadas pelas cobranças da sociedade, as dificuldades de relacionamentos deixarão de existir, ou seja, só haverá felicidade e alegria. Assim creem, independentemente, do que fizeram, ou deixaram de fazer durante a existência carnal.
É fato que com a passagem para o lado de lá, muitas situações que agora nos afligem são interrompidas, entretanto, outras se apresentam, em função do novo estado da alma, agora Espírito desencarnado.
Em relação às questões puramente referentes à matéria há a interrupção imediata, contas e compromissos de ordem meramente materiais desparecem, mas não as repercussões da falta do atendimento destas despesas ou dívidas, pois os credores, caso não possam obter os valores devidos dos familiares, ficarão mentalizando o falecido, talvez com vibrações de ódio e vingança. O ideal é sempre deixar tudo bem acertado e não imaginar que ao morrer o credor deve assumir o prejuízo.
Em relação às enfermidades, com certeza, muitas sensações de desconforto originadas pela deterioração da matéria desaparecem, contudo, as impressões dessas dores, não se apagam, instantaneamente, pois o Espirito pode guardar íntima relação com o corpo por dias, semanas, meses, anos ou mesmo séculos. Assim, enquanto ele não desencarna, ou seja, perde as reminiscências da influência dos costumes materiais, permanece doente, com dores, mal estar, desconforto, até que seu perispírito se reintegre na totalidade ao plano espiritual, perdendo a materialidade construída por conta da reentrada na veste carnal. Além disso, os distúrbios mentais, que possa ter enfrentado, também permanecem, em parte, ou no todo, depende de como foi a vivência da alma com o seu corpo biológico.
As exigências sociais com suas muitas convenções desaparecem, porém, há outras demandas a serem atendidas. Uma das principais surgem da consciência culpada do Espírito. Não há transgressões das leis divinas que possam ser apagadas, exceto pelo exercício continuado no amor. A sociedade, com seu ordenamento jurídico, pode não nos alcançar em vida, mas as consequências dos deslizes permanecem no íntimo de cada um e, ao voltar à vida verdadeira, o Espírito, aos poucos, ou imediatamente, passa a sentir as pressões que vêm de dentro, da consciência, informando que é necessário reparar os prejuízos causados ao próximo, mesmo que a sociedade não tenha percebido e punido tais infrações. Essas pendências serão sentidas até que o pecador tenha coberto sua multidão de pecados pelo exercício da caridade. Caso não pacifique sua consciência, ela exercerá as pressões correspondentes às faltas praticadas na antiga existência carnal, pois dívida adiada não é dívida paga.
No campo das relações afetivas, muita coisa pode acontecer. Poderemos encontrar antigos afetos que nos antecederam na passagem final, amizades antigas podem ser de novo restauradas, o que nos dará muita alegria.
Por outro lado, no imediato momento em que colocamos os pés no lado de lá, ficamos muitas vezes à mercê de antigos inimigos, desafetos de outras eras e dessa mesma existência corpórea, que acabamos de deixar, ou mesmo de Espíritos desencarnados desconhecidos, desocupados, ociosos, viciados, tão ou mais ignorantes que os recém- desencarnados, formando bandos e comunidades, constituindo colônias estranhas, burgos exóticos, agrupando-se conforme as preferências e costumes pessoais adquiridos na última existência, quando por aqui ainda transitavam.
Como se vê, ninguém melhora de imediato com a morte, pois conforme aprendemos com a Doutrina Espírita, a vida após a morte só se caracteriza como melhor quando o Espírito teve uma existência regularmente pautada na Lei de Deus. Do contrário, podemos afirmar: após a morte não haverá estado melhor, tampouco vida melhor, muito menos lugar melhor, e mais, o morto não irá para o céu, até porque ele não existe no espaço.
Sendo assim, aqueles que ainda permanecem na Terra e assistem seus afeiçoados serem convocados a fazer a grande transição, orem por eles. E muito, em dias de Finados ou não. A prece dita com o fervor da alma poderá amenizar as muitas incertezas enfrentadas por quem raramente se pautou segundo os ditames do Cristo.




