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Para onde vai a educação infantil?

Autor: Marcus De Mario

Tenho uma sobrinha que iniciou seu período escolar no maternal de uma escola de educação infantil. Ela está com três anos de idade. Sua mochila carrega livros didáticos, tem aula de balé, e já tem dever de casa. Provavelmente, ainda não tenho essa informação, terá provas e notas. E terá, mais à frente, aula de inglês. Para seu desgosto, o parquinho está fechado, por causa do coronavírus, o que não dá para entender, afinal as crianças estão confinadas dentro de uma sala e o parquinho é ao ar livre..

Recebo informações de diversas mães sobre a educação infantil nas escolas, e os relatos não diferem muito do que acontece com minha sobrinha. Parece que as escolas estão vivendo um vírus muito, muito perigoso: o vírus da mesmice, do fazer tudo igual, do trabalhar para ensinar e preparar os alunos para vestibulares e concursos.

Nessa visão, aluno bom é aquele que consegue memorizar muitos conteúdos e despejá-los com correção em provas de avaliação, a maioria na base da múltipla escolha, ou seja, não é preciso saber pensar com profundidade, não é necessário saber utilizar a autonomia com respeito aos direitos dos outros, não é preciso ser solidário desenvolvendo a cooperação, não é essencial ser ético e honesto. Todas essas coisas passam bem longe das coordenadas pedagógicas das escolas, a começar pela educação infantil.

As brincadeiras e os jogos educativos, numa palavra, a ludicidade, está sendo substituída por tablets em que as crianças ficam assistindo vídeos, cada uma na sua carteira, sem interação. As professoras são levadas pelo sistema a ter postura de dar aula, de ensinar, colocando em segundo plano o desenvolvimento socioemocional das crianças, como se isso fosse um problema a ser resolvido exclusivamente pelos pais. Um equívoco de consequências difíceis de aquilatar para a sociedade, de tão profundos.

As escolas estão preocupadas em entulhar as crianças de atividades extracurriculares como balé, informática, natação, capoeira, judô, xadrez, línguas estrangeiras e outras coisas, esquecendo que são crianças e como tal devem ser tratadas, no seu mundo de sonhos, magias, brincadeiras, preparando-as para a vida de acordo com seu desenvolvimento psicogenético, com seu ritmo próprio de aprendizagem.

Quando minha sobrinha chega de visita, ela quer brincar, brincar muito. Interage com os brinquedos que estão à disposição, inventa brincadeiras, pula, corre, grita, pergunta, elabora raciocínios nem sempre lógicos, adora rolar, dançar, cantar até não poder mais. Se pudesse ficaria 24 horas brincando. O que a escola está fazendo com o mundo infantil?

A escola está margeando perigosamente a robotização infantil.

Minha memória recorda quando em visita a uma escola, vi uma turminha do jardim enfileirada atrás da professora, como se fosse um trenzinho, caminhando para algum local. A cena pode evocar algo maravilhoso, mas é contrastada pelo figurino da professora, elegantemente vestida, maquiada, cheia de penduricalhos, parecendo pronta para uma elegante festa. Mas, não, estava em pleno trabalho na escola, com sua turma da educação infantil. Devo pensar que ela não participa das brincadeiras, não senta no chão, nem pega uma criança no colo. Para essas coisas, essenciais, deve ter uma auxiliar.

Que adultos serão essas crianças?

A pergunta está lançada, para que pais e professores façam o salutar exercício da reflexão., com o olhar voltado para o amanhã, para o futuro da nossa humanidade.

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