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Evocação: Senhora Ida Pfeiffer

Revista Espírita, dezembro de 1859

O relato seguinte foi extraído da segunda Viagem, ao redor do mundo, da senhora Ida Pfeiffer, página 345.

Uma vez que me ocupo em falar de coisas tão estranhas, é necessário que mencione um acontecimento enigmático que se passou, há vários anos, em Java, e que fez tanta sensação que provocou mesmo a atenção do governo.

“Havia, na residência de Chéribon, uma casinhola na qual, no dizer do povo, ocupava-se dos Espíritos. Na caída do dia, as pedras começavam a chover de todos os lados na sala, e por toda parte onde se escarrava siri (1). (1-Preparado que os Javaneses mascam continuamente, e que dá à boca e à saliva uma cor de sangue.) As pedras, assim como os
escarros, caíam perto das pessoas que se encontravam no recinto, mas sem atingi-las nem as ferir. Parecia que era sobretudo contra uma pequena criança que isso estava dirigido.

Falou-se tanto desse assunto inexplicável, que por fim o governo holandês encarregou um oficial superior, que merecia sua confiança, de examiná-lo. Este fez postar, ao redor da casa, homens seguros e fiéis, com proibição de deixar entrar e sair quem quer que fosse. Examinou tudo escrupulosamente, e pondo sobre os joelhos a criança designada, sentou-se na peça fatal. À tarde a chuva de pedras e de siri começou a cair como de costume: tudo caiu perto do oficial e da criança, sem atingir nem um e nem o outro.

Examinou-se de novo cada canto, cada buraco; mas não se descobriu nada: o oficial nada pôde ali compreender. Fez recolher as pedras, fez marcá-las e escondê-las num lugar bem afastado; isso foi em vão: as mesmas pedras caíram de novo na peça, na mesma hora. Enfim, para pôr termo a essa história inconcebível, o governo fez demolir a casa”

A pessoa que obteve este fato, em 1853, era uma mulher verdadeiramente superior, menos pela sua instrução e seu gênio que pela incrível energia de seu caráter. A parte essa ardente curiosidade e essa coragem indomável, que dela fizeram a mais espantosa viajante que jamais existiu, a senhora Pfeiffer não tinha em seu caráter nada de excêntrico. Era uma mulher de uma piedade doce e esclarecida, e que provou muitas vezes que estava longe de ser supersticiosa: tinha por lei não contar senão o que vira por si mesma, ou aquilo que tinha por fonte certa. (Ver a Revue de Paris, do dia 1º de setembro de 1856, e o Dictionnarie dês contemporains, de Vapereau.)

Evocação

1. Evocação da senhora Pfeiffer. – Estou aqui.

2. Estais surpresa pelo nosso chamado e por vos encontrardes entre nós? – R. Estou surpresa pela rapidez da minha viagem.

3. Como fostes prevenida que desejávamos falar-vos? – R. Fui conduzida aqui sem disso suspeitar.

4. Todavia, recebestes um aviso qualquer. – R. Um arrebatamento irresistível.

5. Onde estáveis, quando do nosso chamado? – R. Estava perto de um Espírito que tenho a missão de guiar.

6. Tivestes consciência dos lugares que atravessastes para vir aqui, ou bem aqui vos encontrastes subitamente, sem transição? -R. Subitamente.

7. Sois feliz, como Espírito? – R. Sim, não se pode ser mais feliz.

8. De onde vos veio esse gosto pronunciado pelas viagens? -R. Fui marinheiro numa vida precedente, e o gosto que tinha, nessa vida, pelas viagens refletiu sobre esta, apesar do sexo que escolhi para disso me subtrair.

9. Vossas viagens contribuíram para o vosso adiantamento, como Espírito? – R. Sim, porque as fiz com espírito de observação, que me faltou na existência precedente, quando não me ocupei senão de comércio e de interesses materiais: foi por isso que acreditei avançar mais numa vida sedentária; mas Deus, tão bom e tão sábio em seus decretos que não podemos penetrar, fez-me utilizar minhas tendências para fazê-las servir ao adiantamento que eu solicitei.

10. Qual das nações que visitastes pareceu a mais avançada e que preferistes? Não dissestes, quando viva, que vos agradavam certas populações da Oceania acima das nações civilizadas? – R. Era um sistema errôneo. Prefiro hoje a França, porque compreendo sua missão e prevejo seus destinos.

11. Qual o destino que prevês para a França? – R. Não posso dizer-vos sua destinação; mas sua missão é espalhar o progresso, as luzes, e portanto o Espiritismo VERDADEIRO.

12. Em que os selvagens da Oceania vos pareciam mais avançados que os Americanos? – R. Neles encontrei, à parte os vícios concernentes ao estado selvagem, qualidades sérias e
sólidas que não encontrei alhures.

13. Confirmais o fato que teria se passado em Java, e que é narrado em vossas obras? – R. Eu o confirmo em parte; o fato das pedras marcadas e lançadas de novo merece explicação: eram pedras semelhantes, mas não as mesmas.

14. A que atribuís esse fenômeno? – R. Eu não sabia a que atribuí-lo: perguntava-me se, com efeito, o diabo existia; e me respondia: Não, e nisso ficava.

15. Agora que podeis disso vos dar conta, podeis nos dizer de onde vinham essas pedras? Eram transportadas ou fabricadas de propósito pelos Espíritos? – R. Pedras transportadas. Era mais fácil, para eles, conduzi-las do que aglomerá-las.

16. E esse siri, de onde vinha? Era fabricado por eles? – R. Sim: era mais fácil, e, por outro lado, inevitável, uma vez que era impossível encontrá-lo inteiramente preparado.

17. Qual era o objetivo dessas manifestações? – R. Como sempre, para chamar a atenção e
fazer constatar um fato do qual se falou e do qual se procurou a explicação.

Nota. Alguém pode observar que essa constatação não poderia conduzir a nenhum resultado sério entre tais povos; mas responde-se que há um resultado real, uma vez que, pelo relato e o testemunho da senhora Pfeiffer, chegou ao conhecimento dos povos civilizados, que o comentam e dele tiram consequências: esses são, aliás, os Holandeses que foram chamados a constatá-los.

18. Deveria haver aí um motivo especial, sobretudo quanto à criança atormentada por esses Espíritos? – R. A criança tinha uma influência favorável, eis tudo, uma vez que não lhe fizeram pessoalmente nenhum toque.

19. Uma vez que esses fenômenos eram produzidos pelos Espíritos, por que cessaram quando a casa foi demolida? – R. Cessaram porque se julgou inútil continuar; mas não deveríeis perguntar se teriam podido continuar.

20. Nós vos agradecemos por terdes vindo e terdes consentido em responder às nossas perguntas. – R. Estou ao vosso dispor.

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