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Tipos de leitura que podem influenciar o dirigente espírita

Autor: Edgar Egawa – Fala MEU! Edição 38, ano 2006

Paulo de Tarso disse, em uma de suas epístolas, que tudo nos é lícito, mas nem tudo nos convém, indicando dessa maneira a necessidade de conhecermos o mundo, mas não adotar seus valores indiscriminadamente. O que significa que devemos refletir sobre o conhecimento adquirido, para que ele faça parte de nosso repertório, ou seja, descartado conscientemente e não rejeitado ou absorvido a priori.

Dessa maneira, encontramos n tipos de leituras indicados para os dirigentes espíritas aplicarem em suas rotinas no Centro. Aqui, vamos falar de alguns desses tipos.

Antes de tudo, Espiritismo.

Uma pessoa que se disponha a conduzir uma reunião, dirigir um Departamento ou fazer parte da Comissão Executiva deve estudar as principais obras da Doutrina Espírita, a começar pelas obras de Kardec. Sem essa base, ela não terá condições mínimas para perceber se algo que foi dito em uma palestra ou reunião de estudo destoa dos princípios doutrinários.

O que não significa que ele deva tratar o companheiro equivocado como o demônio em sessão de exorcismo. Ele precisa conduzir a reunião de maneira a fazer o autor do comentário perceber o engano, sem magoálo, principalmente se é iniciante na Doutrina. O que nos leva a outro tipo de obra recomendada.

A diferença entre liderança e chefia.

Em um meio como o movimento espírita, no qual a regra é o trabalho voluntário, os dirigentes devem se comportar de maneira a liderar pelo consenso e não impor suas idéias, como no período fascista-nazistacomunista e nas ditaduras das décadas de 60 e 70 do século 20. Nem têm com o que ameaçar os freqüentadores e trabalhadores mais resistentes porque, ao contrário do mercado de trabalho, não há uma fila de potenciais substitutos esperando a oportunidade de colaborar nas fileiras espíritas.

É imprescindível que saibamos a diferença entre chefiar e liderar, e que no segundo caso, possamos mostrar claramente o objetivo da função que exercemos e das estratégias que adotarmos. Se as pessoas estiverem confusas a esse respeito, é porque nós mesmos não sabemos qual rumo devemos tomar. E uma liderança perdida é uma liderança ineficaz.

Por isso, são indicados livros sobre administração e liderança, para que possamos refletir sobre esses temas e possamos adequá-los ao nosso cotidiano. E com esse intercâmbio, estabelecer, quem sabe, um estilo de liderança espírita.

A arte de ensinar e aprender.

Jesus tem como um de seus epítetos (“apelido”) Mestre. E, de uns tempos para cá, é considerado o psicólogo por excelência. O que significa que ele transmitia seus conhecimentos de forma agradável e compreensível e é profundo conhecedor da alma humana (tanto que em sua agonia na cruz, Ele pediu que nos perdoasse porque não sabíamos o que estávamos fazendo).

Como palestrantes, evangelizadores e dirigentes de mocidade, temos que nos preparar não só estudando o tema, mas procurando maneiras mais ágeis e agradáveis de transmiti-lo. Temos que adequar o conhecimento que temos ao público-alvo, de forma a evitar que ele se disperse. Essa dispersão pode ir da sonolência (que pode ter outros motivos além da maneira de apresentar o tema) às saídas constantes do recinto e à bagunça gerada pelas crianças que não foram cativadas pela apresentação.

Dinâmicas de grupo, vivências, cartazes, retroprojetores, vídeos, músicas, artes plásticas, dança, teatro, jogos de mesa e de salão adaptados para o desenvolvimento dos temas podem ser utilizados, desde que sejam adequados e estimulantes.

Nesse caso, livros sobre pedagogia, tanto geral como espírita, e apostilas com dinâmicas e vivências podem ajudar na elaboração dos estudos.

Estar no mundo, sem ser do mundo.

Um dirigente que fique restrito às obras e publicações espíritas perde a oportunidade e o poder de análise de quem acompanha o noticiário e lê outras obras além das espíritas. Se verificarmos nos Prolegômenos, publicado no Livro dos Espíritos, iremos encontrar assinaturas de grandes nomes da filosofia, da literatura e da ciência humanas, dando aval à obra coordenada por Kardec.

Falamos com intimidade sobre Santo Agostinho, São Tomás de Aquino, Galileu, Erasto, Sócrates, Voltaire, Platão. Muitos desses espíritos deixaram obras de valor para a Humanidade. Mas quantos de nós nos debruçamos sobre elas e as analisamos sob a ótica espírita?

Quantos de nós temos uma sólida formação espírita, capaz de resistir à sedução da doutrina materialista de autores como Marx ou de niilistas como Nietszche ou Sartre?

Harold Bloomm, escritor britânico, nomeou Shakespeare como o “inventor do humano”. Por que será? Uma análise superficial da obra do bardo inglês nos mostra situações em que há ciúme e inveja (Otelo), ganância (Macbeth), paixão (Romeu e Julieta), ingratidão (Rei Lear) e indecisão (Hamlet), o que constituem um painel das emoções negativas a que a Humanidade cede, podendo ser analisadas, se não nas reuniões espíritas, pelos dirigentes em particular, a fim de aumentar seu repertório. Além disso, conhecer o estilo dos grandes escritores, mesmo que através de obras traduzidas, nos prepara para detectar tentativas de mistificação.

Mesmo que o dirigente não seja muito afeito à leitura fora do meio espírita há várias adaptações para o cinema e a televisão de vários clássicos: O Primo Basílio e Os Maias, de Eça de Queirós; O Tempo e o Vento, de Érico Veríssimo; Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa; Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, além das adaptações para o cinema das obras de Shakespeare, já citadas, e muitas outras mais.

A formação do dirigente espírita

Existem duas fontes de divulgação do Espiritismo para as quais devemos atentar. A primeira é o nosso exemplo. E isso engloba a nossa capacitação para assumir cargos de direção de modo a fazer crescer a casa que freqüentamos. E a outra são os livros, publicados aos montes todos os anos.

Mas como vimos, não podemos ficar restritos aos livros espíritas. Se não, ficaremos como outros que lêem a Bíblia e nada mais, fazendo uma interpretação literal de seus textos e estreitando sua visão de mundo.

Se tivermos estudado os clássicos do Espiritismo, teremos como separar o joio do trigo, pois o nosso repertório será mais amplo, e saberemos a quem consultar caso tenhamos dúvidas sobre conceitos doutrinários emitidos nas novas obras.

Da mesma maneira, se lermos os clássicos da literatura mundial, teremos condições de reconhecer o estilo de um autor, caso um médium psicografe obras usando sua assinatura.

Conhecendo os percalços que o mundo corporativo enfrenta, e comparando-os com aqueles que sofremos no dia-adia do Centro e do movimento, teremos uma oportunidade de fazer um trabalho melhor, mais profissional, sem que isso implique remuneração.

Sabendo utilizar as ferramentas pedagógicas para os grupos corretos, um tema tem mais chances de ser compreendido pelas pessoas, e de maneira mais agradável.

Ler tudo o que nos cair nas mãos; meditar sobre cada obra; aproveitar o que for possível. Parece coisa para enlouquecer qualquer um, dado o número de obras existentes no mundo. Mas basta deixar de ficar em frente à tevê alguns minutos por dia. E não precisamos gastar com a compra desses livros. Se houver uma biblioteca pública no bairro, é só fazer a inscrição e aproveitar seu acervo. Se o Centro que você freqüenta tem uma, inscreva-se e viaje pelos títulos espíritas.

 

 

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