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Por que é tão difícil recordar e interpretar sonhos?

Autor: Rogério Miguez

Todos os Espíritos quando encarnados anseiam por voltar ao plano espiritual; isso pode ser visto como uma tendência instintiva, visto ser a vida na Terra, ou em qualquer mundo material, apenas uma pequena e provisória etapa de aprendizado. A existência continua eternamente no espaço, cenário da vida definitiva.

Esta tentativa de “fuga” do corpo físico recebeu a denominação de Emancipação da Alma pelo Codificador da Doutrina, tema importantíssimo para o entendimento das leis divinas, contemplando todo o capítulo VIII em O Livro dos Espíritos, em mais de 50 perguntas, e ao final há um extenso resumo elaborado pelo próprio Allan Kardec.

Diariamente vivenciamos esta “fuga”, porquanto, sempre à noite ao adormecer, nós espíritos nos emancipamos, deixamos parcial e provisoriamente o corpo carnal e nos lançamos ao espaço participando de inúmeras atividades e encontros.

Ao voltar ao corpo, pois emancipados permanecemos sempre ligados ao mesmo pelo perispírito, via cordão de prata, uma extensão deste, guardamos reminiscências desta movimentação no plano etéreo, lembranças estas denominadas sonhos.

 Cabe a pergunta: se isto é um fato, por qual motivo não me lembro de tudo, detalhe por detalhe, afinal, em seis, sete ou oito horas de sono devo ter realizado muitas coisas; creio devo ter me encontrado com muitos outros espíritos; posso ter ido a outras cidades, países e mundos; são inúmeras as possibilidades…

Tecnicamente falando, explica-se este fenômeno do esquecimento devido às impressões vividas no espaço terem sido recebidas diretamente pelo espírito, via perispírito. Quando retornamos ou acordamos, o cérebro material não consegue traduzir o vasto material colhido; há uma questão de vibrações, frequências, quando emancipados são mais altas. Acordados, há um rebaixamento natural da frequência devido ao corpo material impedindo uma boa transmissão das lembranças do período diário no qual estivemos embalados pelo deus grego dos sonhos: Morfeu.

Ajuizamos ser bem oportuna a recordação integral dos sonhos, mas não é bem assim. Os sonhos, mesmo apenas em fragmentos, entre muitos benefícios, servem para nos advertir ou avisar, os chamados sonhos premonitórios, sobre acontecimentos futuros, deixando reminiscências em nossa mente, de modo a nos fazer refletir sobre como estamos vivendo ou mesmo sobre situações diversas envolvendo familiares, ou amigos, permitindo desta forma a tomada de decisões conscientemente ou mesmo nos prepararmos para este futuro. Se Deus permitisse a recordação de tudo, fosse a lembrança cristalina e objetiva, não haveria razão no uso do livre-arbítrio em vigília, nos tiraria os méritos da decisão e ação.

Mas existem outras razões para este esquecimento. Este conjunto de causas torna dificílimo na maioria dos casos, ou mesmo impossível decifrar o significado dos sonhos, senão vejamos:

  1. Nossas preocupações cotidianas quando despertos (trabalho, família, contas a pagar…), não desaparecem quando dormimos, impregnando-se e misturando-se às nossas lembranças ao acordar em função direta da intensidade com que lidamos com elas em vigília.
  2. A alimentação pesada e substancial muito próxima ao horário do sono obriga o corpo a trabalhar promovendo a digestão dos alimentos em um momento destinado ao descanso. Esta atividade extra influencia o sono contribuindo no embaralhamento das lembranças.
  3. Independente do momento do dia, somos acompanhados por Espíritos desencarnados, amigos ou desafetos, os primeiros conhecidos por protetores, guias espirituais, familiares ou simpáticos, os últimos popularmente conhecidos por obsessores, embora nem sempre o sejam. Estas entidades acabam também por se misturar em nossas atividades noturnas dificultando a recuperação dos fatos vividos. Há mesmo aquelas nos perturbando intencionalmente durante o sono, criando imagens absurdas, sugerindo ideias pouco edificantes. Estas sugestões também se misturam às nossas reais movimentações no espaço.
  4. Quando emancipados, função das muitas possibilidades de atuação no plano imaterial: atendimento a palestras, cursos, visitas a entidades comprometidas conosco de passado em atos irregulares, encontro com familiares e conhecidos encarnados ou desencarnados, entre outras, criam diversas impressões. Ao acordar, se houve uma atividade muito intensa, geram também um verdadeiro turbilhão de reminiscências.
  5. A condição de emancipação naturalmente permite um acesso mais fácil às nossas vidas passadas, registradas segundo muitos no perispírito, nosso entendimento também. Imaginemos a quantidade de informações e experiências armazenadas, construídas em inúmeras vidas. E mais, podemos igualmente despertar antigas impressões da vida presente se encontrando provisoriamente abafadas por diversos motivos.
  6. Não é raro, quando possível em função de nossa atmosfera psíquica, o espírito protetor nos encontrar e relembrar promessas feitas e antigos compromissos, além disso, podem ser dadas informações para o futuro, situações a acontecer como resultado de um conjunto de atos passados.
  7. Se antes de dormir, assistimos em nossas televisões, filmes violentos e inadequados, as imagens e cenas mais marcantes também podem se misturar aos sonhos, acrescentando mais uma componente de confusão.
  8. O sentimento de culpa por desvios cometidos, muitos não registrados pela justiça humana, são também poderosos elementos complicadores, pois geram apreensão sobre o que vai acontecer do lado de lá, e o sono nada mais é do que um prelúdio diário da morte.
  9. O uso de alcoólicos ou drogas alucinógenas, evidentemente, causam também efeitos perturbadores durante o período do sono.

Agora, juntemos a questão da frequência e todas estas possibilidades mencionadas, entre outras, coloquemos simbolicamente em uma “panela” mechamos bem e perguntemos: Qual o resultado final? Qual aspecto e gosto terá esta “sopa”?

Este caldo se traduzirá de ordinário como um quadro absurdo, com personagens de toda a ordem, conhecidas e desconhecidas, encarnadas e desencarnadas, reminiscências de conversas, palavras soltas, pedaços de frases, cenas truncadas e surreais, jamais sequer imaginadas em estado de vigília e nesta hora então, tentemos decifrá-lo!?

Todavia, se assim acontecesse sempre, os sonhos seriam totalmente inúteis, mas não é o caso, graças ao Bom Deus! Veja-se o texto publicado na Revista Eletrônica O Consolador1.

Tomemos um bom exemplo de um sonho entre tantos existentes na rica literatura espírita. Referimo-nos ao caso relatado por Isabel de Aragão, a rainha médium, no livro homônimo editado pela Casa Editora O Clarim2.

Nos capítulos IV e V foi descrito um ardil do pai de Isabel, Pedro, para assassinar o seu irmão Jaime, também herdeiro dos bens do rei morto Jaime I de Aragão, avô de Isabel. O plano era matá-lo durante uma caçada simulando assim um acidente. A criança médium Isabel, em uma noite, adormecida e emancipada, sonha com esta caçada, e observa quando seu pai Pedro lança o seu falcão para atacar um pombo, repentinamente o falcão muda de direção e ataca seu tio Jaime, arrancando-lhe o coração em um só golpe. O intenso ataque provocou a morte imediata do tio, entretanto, para surpresa de Isabel, seu pai, juntamente com os seus homens riam-se do acorrido, enquanto o falcão se alimentava do coração do querido tio: Não é um sonho totalmente inverossímil?

No outro dia, assustada, relata o sonho a sua mãe; esta perplexa escuta o relato, ajuizando ter sido descoberta a infame trama, por algum motivo superior, o ardil havia sido revelado à Isabel por intermédio de um sonho. Apreensiva, conversa com o esposo, contudo, decidem ainda ir em frente, apesar do sonho premonitório de Isabel. Ao final, o tio de Isabel foi salvo por Jaime I, quando este desencarnado aparece em frente do cavalo montado pelo tio, durante uma caçada, no exato momento do disparo de um dardo mortal por um arqueiro escondido, a mando de Pedro. O cavalo empinou, o tio caiu e se salvou.

Não é um exemplo perfeito da utilidade do sonho, embora os pais de Isabel não tivessem acolhido o aviso, e, simultaneamente da sua impossibilidade de entendimento por parte de quem sonhou, ou seja, da pequena Isabel?

Apesar desta dificuldade de bem registrar um sonho, existe uma providência simples, possivelmente a mais eficaz, ou seja, um ingrediente poderoso a ser adicionado à panela, tornando a sopa mais apetitosa, não se parecendo a uma mistura indefinida e desagradável aos olhos: esta atitude é a prece!

Sim, a oração ao dormir, dita com fervor e emanada verdadeiramente do coração, é elemento pacificador da alma, pode muito nos tranquilizar, proporcionando uma boa noite de sono, impedindo, por exemplo, o assédio das entidades perturbadoras.

Como sugestão final, não nos preocupemos em demasia com os sonhos, pois muitas das imagens e impressões são mero reflexo das nossas variadas preocupações de vigília. Quando o sonho é importante, guardam-se reminiscências dele, estas afloram na hora adequada, indicando-nos como agir e fazer naquele particular momento. Nisto reside a sabedoria divina.

Nota

1 http://www.oconsolador.com.br/ano10/485/ca7.html acesso em 05/12/2016.

2 TURINI, Valter. Isabel de Aragão, a rainha médium. Pelo Espírito Monsenhor Eusébio Sintra. 2. ed. Matão: Casa Editora O Clarim, 2013.

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