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Rock: O espiritismo de roupa nova

Autores: Felipe Oliveira e Rafaela Rodrigues

Cantando histórias

Poderia começar dizendo que, hoje em dia, é impossível falar do movimento jovem espírita sem falar da música. O que não é mentira… Em partes.

Digo “em partes”, pois na verdade, não é de hoje que a história do movimento jovem vem sendo contada e cantada num mesmo ritmo. Basta participar de uma das semanas de jovens espíritas regionais, onde é possível encontrar os pais dos jovens de hoje, (que em grande parte compõem a mocidade de ontem), para que um deles se lembre de um hino que foi criado pra este mesmo evento há pelo menos 30 anos atrás, por eles mesmos, e o entoem cheios de saudades e relutância em aceitar que novos hinos podem vir.

Pois talvez, seja justamente aí que se esconde a fórmula mágica, o motivo pelo qual a música tem acompanhado por tanto tempo e fortalecido cada vez mais o movimento jovem espírita…

Depois da maré de ídolos autodestrutivos dos anos 80, depois dos jovens de Seattle a Brasília mostrarem que era possível fazer músicas com três ou quatro acordes, e finalmente depois das mães perceberem que seus filhos que faziam aulas de violão queriam montar uma banda, pois já sabiam tocar o mínimo de três ou quatro acordes (e isso não queria dizer que eles iriam acabar como seus ídolos dos anos 80), o rock estava desmistificado em todos os sentidos, e consequentemente, popularizado.

Foi então, que inevitavelmente, este estilo começou a quebrar as barreiras que o separavam da religião, sendo carregado pelos próprios jovens adeptos até seus templos de oração, tornando-se poderosa ferramenta de difusão das ideias das doutrinas e popularizando-as vestidos sob esta nova roupagem.

Os evangélicos e católicos, foram pioneiros nesse sentido, tanto que bandas como Oficina G3 e Rosa de Saron, respectivamente pertencentes as religiões citadas, já possuem anos de estrada, e hoje em dia, chegarem até mesmo às grandes mídias.

O espiritismo caminha um pouco atrás, porém na mesma direção. Com a expansão do movimento jovem espírita, e dos eventos de confraternização de mocidades, sempre incentivando a arte, a música é uma das formas de expressão geralmente mais exploradas. Há sempre a mocidade que possui uma banda, ou projeto de uma, que se apresenta e é incentivada. O contato serve de exemplo, inspirando outros mocidandos a levar de volta às suas casas espíritas o desejo de fazer o mesmo, e a consequência é óbvia: o que se ouve como resultado de uma criação jovem, tem a roupagem que melhor lhe cabe, e é reflexo e influência daquilo que estes escutam, sendo os estilos mais populares o rock e o pop.

A diferença da música espírita atual para a da geração dos nossos pais, além do estilo assumidamente rock, é o entorno. O mundo de hoje, diferente daquele em que viveram nossos pais, instiga e até mesmo proporciona mais meios para que o trabalho se desenvolva de forma mais solta, chegando mais longe.

Com a internet, a facilidade de acesso à informação de comunicação entre os jovens afins, cria meios para que os objetivos se concretizem, proporciona muito mais fontes de inspiração e influências do que nossos pais tiveram acesso, o que resulta num amadurecimento maior do trabalho.

Hoje em dia, não nos contentamos com o violão e a voz, queremos o baixo, a bateria, as guitarras e o que mais for possível para seguir o exemplo dos nossos ídolos. Não nos contentamos em tocar para os que estão perto, queremos atingir a maior quantidade de afins possível, e é nesta ambição sadia que a música espírita cresce ao exemplo das de outras doutrinas.

Como corpo e alma

Outra coisa que queremos, são letras significativas, que passem mensagens, e com que outros jovens se identifiquem.

Como corpo e alma, o espiritismo e a música se completam, servindo não só de fonte vasta de assunto um para outro, mas como meio de manifestação.

É evidente nas letras das músicas de bandas como a gigante goiana GAN (Grupo Arte Nascente, com 23 anos de estrada, que une música e encenação em palco), mensagens que refletem aquilo que se lê e se estuda na doutrina.

A Cartas de Bordeaux (da Mocidade Espírita Bezerra de Menezes, do bairro de São Miguel Paulista em São Paulo), que traz a evidência no nome, assim como sua parceira de caminhada Paroles (da Mocidade Espírita Sementes do Amanhã, da região do bairro do Tatuapé em São Paulo), não só deixam óbvias as fontes como “intertextualizam” abertamente com o pentateuco, e com as obras do espiritismo, em suas letras inúmeras vezes.

Já a Deck Rock, de Guarulhos, diz no nome a que veio, e tem levado a música espirita a um novo patamar de difusão, tocando além do meio, em rockbars e festivais (tocou recentemente na versão de 2012 do festival Summerbeats, no Playcenter, ao lado de bandas como a Rosa de Saron e a Lírios do Vale), e possui letras não apenas inspiradas, mas psicografadas, usando a música como ferramenta de expressão mediúnica.

Lei de sociedade

Ainda no tocante aos temas explorados, Alexandre Gigante (o Giga), vocal e guitarra da Cartas, e o Felipe (que aqui vos fala, haha!), também vocal e guitarra da Paroles, se juntaram na Confraternização de Mocidades Espíritas da Capital de São Paulo, COMECAP, de 2010, para compor a primeira música em conjunto sobre o tema que o evento trazia, no caso, “Quem tem medo do escuro? Convivendo com as perdas”, que resultou na música “Prontos ou Não”.

Aquela foi a primeira de uma conta que já chega a cinco músicas produzidas sobre os temas dos eventos paulistanos, tendo sido “Os Homens” criada para a Confraternização de Mocidades e Jovens Espíritas do Estado de São Paulo, a COMJESP de 2011, sobre o tema “O essencial é invisível aos olhos” a mais bem sucedida, somando com seus vídeos no youtube mais de mil visualizações.

Esta união começou a agregar mais membros em suas produções, e surgiu então a ideia de estabelecer um nome para o projeto. Assim nasceu o Projeto Carrossel, com a proposta de ser uma banda de formação cambiante, sempre reunindo membros de mocidades diferentes, com seus talentos diversos, para escrever músicas tema para as confraternizações de jovens espíritas.

A sexta música do Projeto ainda não tem sequer título, mas o tema é “Mediunidade”, seguindo a proposta de estudo da XXXIV Confraternização de Mocidades Espíritas do Leste do estado de São Paulo, a COMELESP. A ideia dessa vez é envolver a todos os que saibam e queiram participar com seus instrumentos. Assim que estiver pronta, um vídeo será divulgado no youtube ensinando a tocá-la e, no dia da apresentação, todos serão convidados a ingressar no time.

É como traz a questão 768 do L.E.: “Nenhum homem dispõe de faculdades completas e é pela união social que eles se completam”.

Como nossos pais

A vontade dos jovens músicos, aspirantes e amadores da música espírita, não só a mantêm viva como a impulsiona, a move.

As casas espíritas tem cada vez mais reconhecido a importância das mocidades, e da música como meio de atrair jovens e até mesmo de levar aos frequentadores mais antigos os conceitos e as mensagens que as letras das canções passam de forma contemporânea e descontraída, a incentivando.

Agora, citado todo o trunfo dessa geração, fica a pergunta: Será que um dia seremos nós a relutar o que o futuro há de trazer com os jovens de amanhã, querendo manter vivas as musicas da nossa geração, assim como nossos pais? Se sim, significa que nossa missão está cumprida, pois a música que nos marcou, retomará as boas lembranças que assim como esta, não queremos que morram, o que tal como hoje não impedirá a geração vindoura de fazer a própria música, mantendo viva a tradição.

Eis a fórmula mágica de que eu falava na introdução deste texto.

Eis o motivo pelo qual atesto sem titubear que o futuro da música espírita é promissor: nossa história é por ela cantada.

Para conhecer melhor

As bandas existentes não medem esforços para crescer e proliferar o trabalho. A Paroles, atualmente, está em estúdio gravando seu primeiro álbum, com 12 faixas e lançamento previsto para o primeiro semestre desse ano, convidando músicos de outras bandas para participações especialíssimas, como o Gabriel (Teclado, voz e violão na banda Aurea, da quarta assessoria), o Giga, e até o Samuca da baixada Santista, que não tem banda, mas tem seu incrível bandolim e talento inegável. Tudo com o apoio da Fraternidade Espírita Irmã Maria, onde frequentam os Integrantes.

Pra conhecer melhor as bandas citadas nessa matéria, procure-as na internet!

Cartas de Bordeaux: www.soundcloud.com/cartas-de-bordeaux

Deck Rock: www.deckrock.net

Gan: www.gan.com.br

Paroles: www.facebook.com/BandaParoles

Podcast do Gabriel da Aurea: http://gegecast.blogspot.com/

Projeto Carrossel: http://soundcloud.com/projeto-carrossel

Fala MEU! Edição 86, ano 2012

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