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Viver no passado…

Autora: Cristina H. Sarraf

Por causa do Espiritismo temos conhecimento de que vivemos inumeráveis vidas.

Delas não temos lembranças vívidas, pelo nublamento natural do processo reencarnatório, mas podemos perceber e inferir muitas coisas observando tendências, natureza, dotações e formas de ser, que resistiram às influências da vida presente. Isso nos desvenda um pouco de nós mesmos e explica fatos do presente, que é a sequencia e a consequência do passado.

Também durante o sono, que o descanso do corpo, costumamos encontrar Espíritos ou pessoas encarnadas, com os quais tivemos relações dos mais variados tipos, o que nos reme-te a esse passado. Ao acordar, dificilmente lembramos com clareza do que houve, mas trazemos sensações indefiníveis, estados de espírito alterados, exagero nas emoções, dificuldades físicas, que estão revelando, a quem tenha olhos de ver, que algo aconteceu, por mais que não esteja registrado na memória ativa.

Podemos ter sonhos lúcidos com situações de outras vidas; aqueles sonhos dos quais lembramos com a convicção de que são uma realidade. Isso nos desvenda um pouco de nós mesmos e explica fatos do presente, que é a sequencia e a consequência do passado.

Algumas vezes, mesmo em vigília, inesperadamente, se abre, em frações de segundos, uma janela para um instante de uma vida anterior. Mas é tão intenso que temos a certeza de que é real e de que vivemos aquilo. Isso nos desvenda um pouco de nós mesmos e explica fatos do presente, que é a sequencia e a consequência do passado.

Uma pessoa que conhecemos, uma situação que acontece, um livro que se leia, uma viagem a local desconhecido, um filme… várias razões podem fazer eclodir lembranças claras ou fragmentadas, de coisas já vividas em outra vida.

Por que?

Porque em primeiro lugar é uma parte de nós mesmos; em segundo porque são fatos que já estão acessados pelas circunstancias que vivemos e pelo modo como reagimos a elas. Quero dizer: há todo um passado aquietado, guardado, e há pedaços, momentos que “sobem”, “vêm à tona”, puxados por fortes emoções e buscas intensas. Nós mesmos, sem saber, repetimos atos, sustentamos situações, intensificamos certos sentimentos que não estão bem resolvidos, e com isso puxamos para o consciente, para a memória ativa, esses fragmentos de alguma vida passada.

Isso não infringi nenhuma lei, porque ninguém recorda minúcias e muito menos o que não está preparado para enfrentar. Temos mecanismos psicológicos que impedem a subida do que não deve ser encarado e utilizado, nessa etapa da vida.

O “esquecimento” natural que ocorre na reencarnação não é um apagamento das vidas passadas, é só um nublamento propiciador de um recomeço e de novas oportunidades.

Portanto, tudo que se relembra, com aquela certeza de alma de que já foi vivido, tem a finalidade de ser um instrumento de melhoria e de ajustamento pessoal. Ou não ocorreria, porque as leis que nos regem, vindas de Deus, não têm falhas e nem exceções.

Mas há um detalhe muito significativo, no qual devemos por muita atenção: recordações de certo teor, qual seja amoroso ou odioso, geram a tendência de se ficar revivendo esse passado. Coisas emocionais passam, mas coisas do sentimento ficam. Um fato desagradável que mostra o caráter de uma pessoa, fica só nisso, e serve de alerta para não se recair em erro. Um antigo amor que volta, pode afetar a vida em todos os seus aspectos e até disparar comportamentos equivocados e complicadores.

Lembrar, principalmente fatos significativos, não é um ato isolado, uma espécie de pensamento vago ou despreocupado.

É mais, muito mais que isso, porque tudo é efeito de alguma causa e gera outra, que produz novos efeitos, criando o entrelaçamento das situações. Além disso, a memória está segmentada em inúmeros detalhes que envolvem sensações, percepções sensoriais e emoções, que disparam reações no corpo físico, tal como se ocorressem no momento, e isso estabelece um campo psico-emocional-fisiológico intenso. O qual será duradouro se o prazer despertado criar a vontade de reter esse estado, ou breve, se percebermos que não é conveniente nos mantermos nele.

Nossa força psíquica é muito maior do que se imagina e pode ser usada tanto a nosso favor como contra. Isso depende de uma auto-observação séria e da verificação, consciente, dos fatores que nos cercam, bem como dos objetivos de vida que temos.

Sendo assim: o que fazer com a recordação? Ela já aconteceu. Como torná-la útil? Como não ficar revivendo, recriando e misturando com o presente?

A opção vitimista não é aconselhável. Melhor será o uso da razão somada a sensibilidade; concatenando fatos, em busca das causa íntimas de termos recordado tal coisa. Essa é a chave da questão. E pode ser feito com calma, carinho por si mesmo e profundo entendimento humano consigo, para que seja possível extrair do próprio âmago, as respostas verdadeiras.

Por que “puxei” isso? Como tenho me tratado? O que quero obter? Para que recordei? Se isso “subiu” é para me alertar e para que eu não repita erros; como fazer? Que sequencia deverei dar a esse fato? Tudo tem um propósito e nada vem do acaso, portanto, como usar a inteligência para mantê-lo a meu favor?

Por mais que seja tentador entregar- se de novo a situação passada, por mais que ela nos puxe, será preciso mantê-la como passado, entendendo suas consequências no presente, encontrando o equilíbrio natural dessa vida e iluminando-a com a anterior. Pode ajudar muito distinguir que nem você e nem as pessoas envolvidas são iguais ao que já foram e todos estão em novas situações, para aprendizado e progresso.

Às vezes nossas recordações envolvem Espíritos, desencarna dos, que também estão necessitados de equilíbrio e presos demasiadamente ao que viveram, puxando- nos para esse passado, tanto fora do corpo durante o sono, quanto em vigília, participando de nossos pensamentos e atos.

É bom ter em mente que muita gente vive revivendo certos comportamentos de outras vidas, sem o saber, pela convivência constante com Espíritos, amigos ou desafetos.

Certamente que de uma vida para outra não deixamos de ser nós mesmos e de agir mais ou menos como agíamos, mas há condutas já indesejáveis que podem ser açuladas pelos Espíritos ligados a elas. Isso, só podemos saber por informação externa, vinda de um médium ou das pessoas que convivem conosco e que notam como agimos, ou de uma atenta observação em relação aos nossos objetivos e metas, bem como das maneiras como temos nos saído nas circunstâncias que nos cercam.

Quando lemos experiências de vida como a da inglesa Dorothy Eady, denominada Omm Seti, que sentia-se atraída pelo antigo Egito, sendo depois informada, mediunicamente, sobre sua vida passada ali, e que acabou convivendo com um Espírito, ao qual foi ligada naquele tempo, não basta a admiração pelo fato e pelas situações vividas por ela. È preciso refletir que algo desse tipo, por mais excêntrico, comprovador da reencarnação, inusitado e entusiasmante que seja, não é desejável ou idealizável.

Aconteceu. E ela foi espontânea em seus atos, sincera em seus sentimentos e ao que parece não forçou nenhuma situação, até porque desconhecia, ao que consta, a reencarnação como lei da Vida. Mas nota -se que continuou obedecendo ao Espírito do faraó, como o fizera antes, não só pela posição social dele, mas pelo amor que lhe devota.

Quem já sabe que vivemos muitas vezes e sempre trazemos “pontas soltas” nessa trama existencial do Espírito, deverá ter mais cuidado e atenção para não cair no artigo de ficar vivendo duas vidas concomitantes: a de hoje e a de ontem. Isso, se não quiser se complicar nesse estado duplo, onde capta coisas do mundo físico e do astral, de forma mais intensa que a comum, e pode não saber distinguir o que mais lhe convém hoje. Principalmente quando, havendo amor ou ódio, ambas as partes se recordam e querem manter o vínculo.

Se, numa terapia regressiva séria, ocorrem as devidas lembranças de fatos mal-acabados e doloridos, o terapeuta saberá conduzir o paciente para o entendimento e a assimilação dos mesmos, com vistas a torná-los benéficos para o presente. Nesse caso, a tendência de voltar ao passado é administrada e absorvida, sem sequelas.

De todo jeito, o reconhecimento de si mesmo em outra vida, é uma experiência suficientemente forte e intensa para nos marcar para sempre. E que seja de forma boa e construtiva.

Fala MEU! Edição 62, ano 2008

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