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Falta de jovens no Movimento Espírita: O que é preciso saber

Autor: Felipe Gallesco

Para quem é este material?

Este artigo foi escrito para ser lido e discutido por lideranças espíritas, dirigentes, trabalhadores de Casas Espíritas e Grupos de Unificação, independente da faixa etária.

Como foi elaborado?

Através do diálogo com lideranças jovens que realizam os mais variados trabalhos, nas fileiras espíritas, e que estão espalhadas pelo Brasil. É um material feito pelo público jovem.

Qual o objetivo?

Estudar a falta de jovens nas Casas Espíritas e Movimento Espírita, analisando o cenário, medindo impactos, detalhando os problemas e propondo soluções.

Não faz parte da proposta encerrar o tema, mas fornecer insumos para fomentar as discussões nos grupos.

Quem é jovem?

Conforme o Estatuto da Juventude, lei Federal nº 12.852/2013, são considerados jovens as pessoas com idade entre 15 e 29 anos de idade [1].

Quais são os números?

Segue resultado da faixa de idade do público que compõem as Casas Espíritas, apresentado na PNP 2023. [2]

Nota: Em anos anteriores da pesquisa o resultado foi semelhante.

Utilizando a ferramenta Google Trends, que analisa tendências na internet, foi realizada consulta da palavra “Espiritismo”, configurando como critério o ano de 2004 (data mais antiga permitida) até 2023, em todo o território brasileiro e pesquisas Web.

O resultado é o gráfico abaixo, sendo possível observar a diminuição de público ao longo dos anos, com tendência à estabilidade. [3]

O que este cenário significa?

Que o problema não está somente na falta de jovens nas Casas Espíritas e no Movimento Espírita, mas diretamente na forma de atuação dos trabalhos espíritas, com impacto em todas as idades, porém sendo mais sentido entre os jovens.

O Movimento Espírita irá acabar?

Em nenhum estudo sério foi constatado a possibilidade disso acontecer.

A falta de pessoas já era observada antes da pandemia e, como existem diversas ações para análise e reversão, a projeção é que gradualmente os números de frequentadores aumentem.

É importante que as Casas Espíritas e Órgãos de Unificação ao observarem melhora, não abandonem as ações de reversão, para não haver retrocesso.

A responsabilidade pela mudança é de todos os espíritas.

Por que o público mais impactado é o jovem?

A juventude, assim como a infância, é uma das faixas que mais carecem de boa educação. [4]

No modelo de trabalho adotado pela maioria das escolas brasileiras, a educação é fraca. [5]

Nas aulas, são despejados conteúdos, repetições, avaliações, punições, comparações, com foco em preparar somente para o vestibular e, muitas vezes, com professores desvalorizados, desmotivados ou sem muita liberdade para atuação. [6][7][8]

Pouco se estimula a gostar de aprender, de ensinar a ouvir, a pensar, de se construir como um ser humano melhor, explorar a criatividade, ser mais empático, acolhedor, responsável, questionar o que se aprende, ouvir críticas observando o lado positivo, ter menos preconceito, entre outros. [9]

Se o jovem não encontra ambiente que incentive e estimule o seu desenvolvimento, ele procura os mecanismos de fuga, de forma exagerada, que podem ser filmes, séries, jogos e redes sociais – que pouco instruem e somente divertem. [10]

O jovem no Espiritismo

Na população brasileira não existem estudos indicando a falta de jovens. [11]

Observando a problemática no contexto das Casas Espíritas e Movimento Espírita é possível concluir que a maior dificuldade não está em trazer o jovem para as fileiras espíritas, mas reter este público nos trabalhos.

Se as reuniões colocam como única prioridade a divulgação do Espiritismo e esquecem o ser humano que está ali, repetindo o modelo pedagógico da escola, é uma consequência natural ter reuniões vazias.

O jovem quando participa de uma reunião e gosta, é bastante provável que convide outras pessoas.

O autor espírita Marcus De Mario escreveu ótimos materiais falando sobre Espiritismo, educação e escola, recomendamos a leitura. [12]

Onde está a solução?

Em evento realizado no ano de 2023, organizado pela U.S.E. (União das Sociedades Espíritas) distrital Tatuapé, com jovens e dirigentes de diferentes Casas Espíritas, foi debatido a falta de jovens, assim como se propõe este trabalho.

Na conclusão, a palavra que mais se destacou foi “acolhimento”. Concordamos com a análise e incluímos “educação”.

Acreditamos que estes são os dois principais pilares que devem pautar todas as ações de reversão e serem os tópicos mais aprofundados nas atividades espíritas.

Dentre as soluções, é possível observar dois gêneros:

Individual: Eu, enquanto espírita, o que posso fazer para melhorar a educação e acolhimento nas atividades que participo?

Coletiva: Enquanto grupo, como podemos melhorar? As pessoas estão satisfeitas? Todos os participantes sentem que são ouvidos? As ideias são apresentadas de forma clara e precisa? Estamos amadurecendo enquanto grupo? Quais ações ou mudanças podemos implementar?

Devemos esperar uma intervenção do plano espiritual?

Não. Muitos dos problemas enfrentados na atualidade são consequências da falta de preparo e organização dos trabalhadores encarnados. Desta forma, o esforço e solução devem partir, principalmente, deste plano da vida.

Como trabalhar com o jovem?

Juventude também é sinônimo de crescimento e responsabilidade, por isso, o jovem quer e merece ser respeitado e tratado como jovem.

Isso significa que nas atividades espíritas a linguagem utilizada não deve ser infantil e nem complexa, mas simples, clara e objetiva.

O jovem não quer ser lembrado apenas para carregar cadeiras ao final dos eventos espíritas, mas ser incluído nas tomadas de decisões, participar também de outros departamentos, expor palestras e se desenvolver em diferentes frentes.

Para aqueles que questionam a competência do jovem, lembre-se que este material foi pensado e escrito por pessoas nesta faixa etária.

O básico está sendo feito?

Antes de apresentar propostas de ações para reversão do problema é necessário que os núcleos espíritas observem em suas atividades se o básico já está sendo feito, isto é, se as condições são satisfatórias para realização das atividades, para isso, segue lista de tópicos:

  • As atividades adotam como base as ideias contidas nas obras codificadas por Allan Kardec?
  • Existe um planejamento estratégico? [13]
  • Os trabalhadores são valorizados?
  • Existe um equilíbrio entre os pilares científico, filosófico e religioso?
  • Os sucessores já estão sendo treinados e preparados?
  • A Casa Espírita está limpa para receber e realizar as reuniões?
  • As cadeiras estão em boa qualidade?
  • O espaço é adequado?
  • São feitos trabalhos constantes de divulgação?
  • Existe mural de avisos que detalham os dias e horários das atividades?
  • No começo ou final das reuniões são divulgados recados e avisos?
  • Existe placa na entrada indicando aquela instituição como espírita?
  • Os núcleos possuem e utilizam site e redes sociais?
  • Os frequentadores são bem acolhidos, ouvidos e incluídos?
  • O espaço e atividades estão preparados para receberem pessoas com deficiência?
  • Os trabalhadores foram preparados para saberem lidar com conflitos?

Exemplo: Ao longo dos anos visitei diversas Casas Espíritas, no estado de São Paulo, para conhecer e participar das reuniões de mocidade. Não foram poucas vezes que vi os jovens realizando estudos em salas pequenas, quentes, ou que eram usadas como depósitos de objetos, com espaço insuficiente para o grupo.

Se a Casa Espírita não dispõem de muito espaço, as reuniões de mocidade devem ser realizadas em dia e horário que permita utilizar o espaço principal.

Quais são os tipos de ações de reversão?

Para maximizar os resultados, foram propostas ações divididas em três subtipos, sendo elas:

  • Ações para reuniões de mocidade;
  • Ações para Casas Espíritas;
  • Ações para Grupos de Unificação.

As ações devem ser discutidas, pensadas e implementadas de maneira gradual. As mudanças, geralmente, causam desconforto nos envolvidos e precisam de acompanhamento para terem resultados efetivos, por isso, a recomendação de serem feitas aos poucos.

Os resultados não são imediatos, alguns podem demorar meses ou anos para serem percebidos. É preciso manter o foco, ter perseverança e realizar ajustes quando se mostrarem necessários.

O que funciona bem em um lugar pode não dar tão certo em outro, por isso, antes de implementar qualquer alteração, como se fosse uma receita de bolo, é importante que os envolvidos conversem e decidam juntos.

Ações para reuniões de mocidade

Mocidade com a Casa Espírita: A mocidade e os demais departamentos possuem um bom diálogo? Existem representantes da mocidade participando das reuniões administrativas do Centro?

Mocidade e a pré-mocidade: A mocidade, de forma periódica realiza atividades em conjunto com a infância e pré-mocidade? As crianças conhecem as pessoas que participam na mocidade e se sentem seguras para, no futuro, fazerem uma transição tranquila?

Mocidade e a família: Os pais e responsáveis conhecem as atividades que o grupo realiza? Eles também são incluídos nas reuniões para tomadas de decisões?

Nota: Envolver a família é uma ótima experiência, em diferentes aspectos, pois os responsáveis, conhecendo a proposta educativa e seriedade do grupo, passam a ser incentivadores da participação do jovem.

Mocidade e os frequentadores da Casa Espírita: As reuniões de mocidade são divulgadas pelos demais departamentos? O frequentador da Casa Espírita conhece as atividades que a mocidade realizada? Existem atividades ou eventos promovidos pela mocidade que permitem a participação desse público?

Mocidade e a comunidade: O grupo de mocidade está inserido e é atuante na comunidade em que faz parte? Participa de trabalhos assistenciais?

Mocidade e outras mocidades: O grupo de mocidade realiza visitas periódicas em outras Casas Espíritas? Existem trabalhos coletivos realizados por diferentes grupos de mocidade?

Nota: O grupo que eu participava era pequeno, tinha, quando iam todos, uns 5 participantes, porém era bastante ativo. O segredo foi construir um bom relacionamento com outros 10 grupos de mocidade em bairros próximos. Quando tínhamos alguma ideia, projeto ou atividade, fazíamos juntos.

Mocidade também fora da Casa Espírita: De forma periódica são marcados passeios? Estudos em parques? Idas ao cinema? Visitas para leitura do Evangelho na Casa de alguém? As atividades externas contribuem para fortalecimento do grupo.

Construção de laços de amizade: O principal fator para construir e manter grupos de mocidade espíritas longos e saudáveis está na construção de laços sinceros de amizade entre os envolvidos. É trabalho de todos incentivar e viabilizar essa construção.

O jovem como protagonista: Todos os jovens são incluídos nas tomadas de decisões? Na construção de cronograma? Na escolha dos temas? Na forma de apresentação? Eles são respeitados e ouvidos?

O jovem como responsável: Quando chega um novo participante ele é avisado que naquele grupo todos contribuem? Ele é incentivado a se desenvolver? Participa de forma voluntária da divisão de tarefas? Se ele pensa diferente, é respeitado?

O local das reuniões: Deve ser limpo, confortável e aconchegante. Para as Casas Espiritas que dispõem de sala própria para reuniões da infância e mocidade, é recomendado personalizarem o lugar, com pinturas nas paredes e enfeites pendurados no teto. Quanto mais artístico for o ambiente, mais à vontade as pessoas se sentem.

Adultos nas reuniões de mocidade: Pode existir, porém a participação deve ser condicionada a incentivar o desenvolvimento e participação do jovem, principalmente lançando perguntas. Jamais deve querer monopolizar o espaço.

Dirigente de mocidade: Quem dirige o grupo de mocidade são todos os participantes, que devem adotar uma postura comprometida e responsável. Nos casos em que não for permitida a participação de todos, é criado o papel de representante, que apenas fala em nome do grupo.

Observações: Quem adota uma postura de controle pode questionar se empoderar o jovem dentro das reuniões, e dar mais liberdade, não é caminho para baderna, perda da qualidade do estudo ou conflitos.

Respondemos que as ações descritas já foram implantadas em diversos grupos, com ótimos resultados e contribuem para amadurecimento, educação e desenvolvimento dos jovens.

Foi observado que nos grupos de mocidade que utilizam papéis hierárquicos ou de destaque, a incidência de conflitos é maior. Ainda, naqueles que alguém mais velho assume os trabalhos e monopoliza o espaço, os jovens participantes reagem se tornando “zumbis”.

Jovem zumbi: Tem vergonha de fazer a prece, pois acha que vai ser julgado. Não comenta os temas, pois acha que não vai falar bem ou ter boas ideias, tem medo de assumir responsabilidades, não opina nas tomadas de decisões. É alguém que teve seu desenvolvimento prejudicado por conta da forma de relacionamento que se instaurou no grupo. Um dia o jovem zumbi se cansa e deixa de participar.

Técnica 1 para estimular a participação dos jovens: Após a prece de abertura, crie o hábito de todos começarem a reunião comentando como foi a semana. É um jeito de estimular que falem e para que todos se conheçam melhor.

Técnica 2 para estimular a participação dos jovens: No lugar de despejar conteúdo, procure fazer perguntas, peça para os jovens explicarem o que entenderam e como eles enxergam aquele assunto.

Técnica para “ressuscitar” o jovem zumbi: Pergunte do que o jovem zumbi gosta, se for Naruto (é um anime japonês) por exemplo, diga que na próxima semana o tema de estudo será Naruto na visão espírita e peça para ele ajudar na exposição.

Ações para Casas Espíritas

Eventos periódicos: A Casa realiza eventos de estudos e festas? São importantes para “abrir a Casa para comunidade”, aproximar trabalhadores de diferentes departamentos e ter uma percepção sobre o clima cultural. Se a Casa faz eventos e as pessoas não participam, pode indicar problema que precisa ser acompanhado.

Cuidado com os livros na livraria ou biblioteca: É preciso ter, no catálogo, livros sérios e coerentes. Existem diversas obras que propositalmente ou não, denigrem o Espiritismo. [14]

Atividades demais e pessoas de menos: É preferível que a Casa realize poucas atividades, porém bem organizadas, que deixar muitas atividades praticamente sem público e com trabalhadores cansados e sobrecarregados.

Incentivar o constante aperfeiçoamento dos trabalhadores: Não basta apenas acumular conhecimento espírita. O trabalhador precisa buscar também se aperfeiçoar e atualizar em outras frentes, por exemplo, um palestrante precisa conhecer o conteúdo da palestra, saber oratória, montar slides, técnicas para prender a atenção do público e formas de transmitir conteúdo de maneira interessante.

Exemplo: Recentemente participei de um curso não espírita, ministrado por um doutor em comunicação. Ele ensinava que, no lugar de abordar um assunto do começo ao fim, na palestra, o mais indicado era evoluir o tema, falando um pouco de cada parte, como se a palestra evoluísse em forma de espiral. Assisti depois uma exposição de 4 horas nesse método e não perdi a atenção e nem ficou cansativa. Nas Casas Espíritas nunca assisti nada construído desse jeito.

Kit Boas-vindas: As ações elaboradas para as Casas Espíritas são um pouco óbvias, por isso, o objetivo não é estendê-las muito. A principal e mais revolucionária é o Kit Boas-vindas. Esse Kit é uma sacolinha que deve ser entregue a cada pessoa nova que entrar na Casa Espírita.

Dentro existem alguns papéis com textos resumidos. O primeiro fala o que é o Espiritismo e indica começar estudando as obras básicas codificadas por Allan Kardec. O segundo explica o que é uma Casa Espírita e apresenta a lista de atividades com dias e horários das atividades daquele núcleo. No terceiro papel consta uma mensagem edificante e explica o que é o atendimento fraterno.

Cada local pode melhorar esse kit, incluindo novos itens, por exemplo: Colocar mais papéis falando sobre a importância do Evangelho no Lar, sobre a prece, divulgação de site e redes sociais, ou ainda, colocando uma lembrancinha de presente, que pode ser um doce ou outra coisa simples.

Para quem não é espírita ou conhece pouco o grupo, o Kit Boas-vindas é um excelente material de acolhimento, informação e divulgação, além de ser uma solução barata.

Exemplo de decisão desastrosa realizada pela direção de uma Casa Espírita: Certa vez, participando de um evento voltado para dirigentes de mocidades espíritas, na capital de São Paulo, ouvi a história contada abaixo por um ex-trabalhador da mocidade envolvida:

O grupo de mocidade funcionava bem, fazia anos, e tinha em média 20 participantes em todas as reuniões. A Casa Espírita queria aumentar as atividades e estava com falta de trabalhadores e, de forma arbitrária, decidiram que todas as pessoas com mais de 20 anos deveriam sair da mocidade e participar de outros trabalhos.

A notícia caiu como uma bomba. O grupo era bastante unido e não queria se separar. Os jovens mais velhos tiveram dificuldades em se adaptar aos novos trabalhos e abandonaram a Casa Espírita. Os mais novos não estavam preparados para organizar ou conduzir o grupo sozinhos. As reuniões ficaram chatas e eles também abandonaram a Casa Espírita.

A partir dali aquela Casa Espírita ficou sem jovens.

Ações para Grupos de Unificação

Neste item, em vez de descrever ações, quero contar a história de transformação de cultura promovida pelo do DM USE distrital Tatuapé, que em uma década se tornou referência aos outros grupos de unificação, superando uma de suas maiores crises.

O departamento é composto pelos jovens que representam os grupos de mocidade dos quais fazem parte e que estão localizados em bairros próximos à região do Tatuapé, em São Paulo. [15]

Eles se reúnem de maneira periódica, escolhendo Casas Espíritas diferentes como sede para as reuniões, e ali planejam atividades em conjunto, criam cursos, eventos e treinamentos.

Além disso, são feitos acompanhamentos das Casas Espíritas sem reuniões de mocidade, ou que possuem reunião, mas que estão com algum tipo de dificuldade (geralmente falta de pessoas). São realizadas visitas e eventos nesses locais para mobilizar a comunidade, frequentadores e outros jovens para incentivar e fortalecer este tipo de trabalho.

Ainda, em todos os anos é feito um levantamento sobre quais núcleos assistenciais da região mais carecem de recursos e são feitas campanhas de arrecadação de mantimentos para doação. Mas o grupo não se limita a somente fazer a entrega. Se o local é um lar de idosos, por exemplo, os jovens vão ouvir os residentes, tocar músicas no violão para animá-los (inclusive aprendendo canções do tempo em que eles eram jovens) e contagiar todos os envolvidos com bastante entusiasmo e alegria, pois é isso o que o jovem mais tem para doar.

Essas atividades não são exclusivas do DM USE distrital Tatuapé. Existem pelo Brasil diversos outros departamentos, nas fileiras de unificação, que realizam atividades semelhantes, porém o que o tornou objeto de estudo e superação foi a falta de jovens que ocorreu nos últimos anos.

Esse trabalho existe há décadas. Apesar de ser composto por jovens e sempre ocorrer uma renovação natural entre os envolvidos, nos últimos anos houve uma redução significativa de pessoas que começou de maneira gradual.

Analisando as saídas, foi observado que alguns se casaram; mudaram de endereço; pela idade, já não se identificavam mais com o público jovem; mudaram de religião; assumiram novos compromissos que tomavam quase todo o tempo.

Ao analisar centenas de casos, foi observado o primeiro grande problema: A maior parte dos jovens que são líderes, trabalhadores e engajados com o movimento espírita, quando deixam os trabalhos da mocidade, geralmente abandonam a Casa Espírita ou deixam de serem trabalhadores ativos no movimento. Existem, mas são raros os casos de continuidade.

No Movimento Espírita, carece um trabalho realizado pelos grupos, de acompanhamento, retenção e direcionamento gradual dos jovens trabalhadores e líderes para novas atividades, que sejam do seu interesse.

No DM distrital Tatuapé, além das saídas, mesmo com um trabalho forte de divulgação, não chegavam novos participantes. Com o tempo, as atividades mantidas pelo grupo foram sendo impactadas.

Os trabalhadores estavam sobrecarregados. Como essa realidade é também vivenciada pelos grupos de mocidade, os eventos de estudo coletivo entre os grupos estavam cada vez mais vazios.

Grupos de mocidade que haviam sido abertos há poucos anos e, cujas equipes estavam amadurecendo, começaram a fechar. O número de Casas Espíritas sem reuniões de mocidade foram aumentando gradualmente.

O problema era crítico, necessitava de forte mobilização e atenção que iam além daquelas que os jovens trabalhadores do DM distrital Tatuapé conseguiam implementar sozinhos.

Os mais velhos foram envolvidos e a USE Distrital Tatuapé assumiu o compromisso, mobilizando além dos demais departamentos do órgão de unificação, os presidentes e dirigentes de todas as Casas Espíritas da região.

Foram conduzidas pesquisas nos núcleos, realizadas diversas reuniões para tratar da falta de jovens nas Casas e Movimento Espírita, com ênfase em soluções. Trazer e reter o jovem foi o objetivo incluído como prioridade no plano de trabalho de todos os departamentos.

Além disso, A USE distrital Tatuapé assumiu uma nova postura, criando mais espaços de diálogo, incluindo nas discussões a questão do acolhimento e educação, não esperando o representante da Casa Espírita ir até o órgão de Unificação, mas eles estando mais presentes nas Casas Espíritas.

Se um grupo tem poucas pessoas e quer fazer uma atividade, é encorajado a realizar em conjunto com outra Casa Espírita. Não existe figura de destaque, estrelismo, ou competição de qual Casa é melhor ou é mais frequentada. Todos se veem como participantes da mesma fileira e a ajuda é mútua.

Os eventos e trabalhos com os jovens foram adaptados para serem mais interessantes e receptivos, por evento, incluindo temáticas próprias para o interesse desse público. Como exemplo, recentemente fui em cursos, treinamentos e palestras, organizadas pelo DM USE distrital Tatuapé, cujo tema foi construído com base em Harry Potter, Senhor dos Anéis, Stars Wars, não perdendo em nada a qualidade doutrinária e sendo muito interessantes.

Se os jovens forem construir algum evento e faltarem outros jovens participantes, não tem problema, os mais velhos são convidados e contribuem com prazer. Há poucos meses fiquei muito feliz ao participar do sarau organizado pelo DM USE distrital Tatuapé, e ver pessoas de todas as faixas etárias se apresentando, assistindo e construindo um ambiente colaborativo e agradável. Anos atrás um sarau que não tivesse somente jovens seria inconcebível.

Através de estudos, treinamentos, inclusão de novas pautas nas discussões, o clima do grupo foi transformado, e ajudar ali ficou mais agradável e acolhedor. Não precisou que as pessoas da equipe antiga saíssem, apenas que fossem realizados pequenos ajustes.

Na USE distrital Tatuapé e Casas Espíritas que fazem parte, ainda existe a falta de jovens, porém não fazem disso um problema para lamentação, mas oportunidade de união. Todos sabem que são responsáveis e assumem o compromisso com entusiasmo, com fé e certeza de que as ações já estão sendo desenvolvidas e que este cenário logo vai melhorar.

Falta de jovens nas Casas Espíritas e Movimento Espírita: Uma ótima oportunidade

Conforme descrito no começo do artigo, o problema não está somente na falta de jovens nas Casas Espíritas e Movimento Espírita, mas diretamente na forma de atuação dos trabalhos espíritas, com impacto em todas as idades, porém sendo mais sentido entre os jovens.

Sobre os principais problemas é possível destacar:

  • Dificuldade em trabalhar juntos públicos de diferentes faixas de idade;
  • Dificuldade na comunicação;
  • Necessidade de atualização na organização dos trabalhos e forma de conduzir os estudos;
  • Os grupos serem mais abertos e receptivos às mudanças;
  • As atividades e trabalhos de unificação serem mais valorizados.

Não significa que a forma de trabalho das Casas Espíritas e Movimento Espírita esteja errada ou precise passar por uma profunda reformulação.

Muitas ações de reversão são propostas simples para uma melhor organização.

O atual cenário não deve ser observado como um problema catastrófico, mas uma oportunidade, pois são nas dificuldades que os grupos e pessoas se tornam mais analíticos sobre as suas contribuições e mais abertos a mudanças e melhorias. Passar por este momento no presente é a oportunidade de garantir um trabalho melhor para o futuro.

Referências

[1] – Estatuto da Juventude: chrome-extension://efaidnbmnnnibpcajpcglclefindmkaj/https://www.ribeiraopreto.sp.gov.br/portal/pdf/2015-jovem-04202109.pdf

[2] – Resultado da Pesquisa Nacional para Espírita de 2023: https://www.juventudeespirita.com.br/resultados-da-pesquisa-nacional-para-espiritas-de-2023/

[3] – Google Trends: https://trends.google.com.br/trends/explore?date=all&geo=BR&q=espiritismo&hl=pt

[4] – A falência do ensino brasileiro: https://www.juventudeespirita.com.br/a-falencia-do-ensino-brasileiro/

[5] – Má formação dos professores: https://www.juventudeespirita.com.br/ma-formacao-dos-professores/

[6] – Carta aos educadores: https://www.juventudeespirita.com.br/carta-aos-educadores/

[7] – Qualidade em sala de aula: https://www.juventudeespirita.com.br/qualidade-em-sala-de-aula/

[8] – O desvio do Enem: De avaliação para vestibular: https://www.juventudeespirita.com.br/o-desvio-do-enem-de-avaliacao-para-vestibular/

[9] – O mais importante pilar da educação: https://www.juventudeespirita.com.br/o-mais-importante-pilar-da-educacao/

[10] – O jovem e a internet: https://www.juventudeespirita.com.br/o-jovem-e-a-internet/

[11] – Distribuição da população por sexo segundo os grupos de idade – Brasil – 2010: https://brasilemsintese.ibge.gov.br/populacao/populacao-por-sexo-e-grupo-de-idade-2010.html

[12] – Categoria Escola e Educação: https://www.juventudeespirita.com.br/category/geral/textos/escolaeeducacao/

[13] – Planejamento estratégico do Centro Espírita: https://www.juventudeespirita.com.br/planejamento-estrategico-do-centro-espirita/

[14] – Livros que, propositalmente ou não, denigrem o Espiritismo: https://www.oconsolador.com.br/editora/1a50/Livros_que_propositadamente_ou_nao_denigrem_o_Espiritismo.htm

[15] – Site da USE Tatuapé: https://use-tatuape.blogspot.com/

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