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Miniatura da sociedade elegante

Autor: Artur Azevedo (espírito)

*

Adriano Gonçalves de Macedo,

Homem de cabedais e alma sem siso,

Penetrou no seu quarto com um sorriso

Às dez horas da noite, muito a medo.

*

Uma carta de amante – era um segredo –

Ia abri-la, e, assim, era preciso

Que a sua esposa, dama de juízo,

Não na visse nem mesmo por brinquedo:

*

Dona Corália Augusta Colavida

Estaria nessa hora recolhida?

Levantou a cortina, devagar…

*

Mas, que tragédia após esse perigo…

Viu que a esposa beijava um seu amigo,

Sobre o divã, da sala de jantar.

*

No belo palacete do Furtado,

Palestrava a galante Mariquita

Com um pelintra afetado, assaz catita,

Bacharel delambido e enamorado.

*

De sobre a grande cômoda bonita,

Toma o moço um livrinho encadernado,

Revirando-o nas mãos, interessado,

Mas a jovem retoma-o, muito aflita:

*

– “Esse livro, Antonico, é meu breviário!”

Diz inquieta. E ele, cínico e falsário,

Arrebata-o às frágeis mãos trementes

*

Abriu-o. Mais o olhava e mais se ria…

Era um compêndio de pornografia,

Recamado de quadros indecentes.

*

Dom Castilho, notável latinista,

Realizara alentada conferência,

Sobre rígido assunto moralista,

Protegido dos membros da regência.

*

Foi um sucesso. E a esposa Ana Fulgência,

Nele via uma grande alma de artista,

Louvando-lhe a utilíssima existência

De homem probo e notável publicista.

*

Que primor de moral! e os companheiros

Escritores, poetas, conselheiros,

Foram levar-lhe um abraço camarada.

*

Numa corrida louca, esses senhores

Foram achá-lo em seus trajes menores,

No apartamento escuro da criada…

Nota

A poesia acima, psicografada por Francisco Cândido Xavier, faz parte do livro Parnaso de Além-Túmulo

Obra completa: https://www.febeditora.com.br/parnaso-de-alem-tumulo

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