fbpx

Eterna vítima

Autor: Guerra Junqueiro (espírito)

*

Na silenciosa paz do cimo do Calvário

Ainda se vê na cruz o Cristo solitário.

*

Vinte séculos de dor, de pranto e de agonia,

Represam-se no olhar do Filho de Maria.

*

Abandonado e só na aridez da colina

Sofre infindo martírio a vítima divina;

*

Açoitado, traído e calmo, silencioso,

Da Terra ao Céu espraia o seu olhar piedoso.

*

Dois mil anos de dor, e os seus cruéis algozes

Passaram sem cessar como chacais ferozes.

*

Caravanas de reis nos tronos passageiros,

Exaltados na voz das trompas dos guerreiros;

*

Os lendários heróis no dorso dos corcéis,

Inscrevendo com fogo as máximas das leis.

*

Cavalheiros gentis, valentes brasonados,

Nobres de sangue azul nos seus mantos dourados.

*

Viram-no seminu, na cruz, ensanguentado,

E puseram-se a rir do louco supliciado!

*

O Cristo continuou, humilde e silencioso,

Espraiando na Terra o seu olhar piedoso.

*

Sábios do tempo antigo abrindo os livros santos

Olharam-no também, partindo como tantos.

*

Artistas e histriões, poetas e trovadores,

Castelãs juvenis, turbas de gozadores

*

Inda vieram; depois, aqueles que em seu nome

Espalharam a treva, o pranto, a guerra e a fome.

*

Desolação e horror, mataram-se os irmãos,

Lobos, tigres, chacais, na capa dos cristãos.

*

Contemplaram Jesus no cume da colina,

Multiplicando a guerra, as lutas e a chacina.

*

O Mestre prosseguiu, sublime e silencioso,

Espraiando na Terra o seu olhar piedoso.

*

E na época atual a caravana estranha

Estaca no sopé da árida montanha;

*

Mas os soberbos reis e césares antigos,

Hoje mais nada são que míseros mendigos;

*

Os nobres doutro tempo, agora transformados

Nos párias do amargor, nos grandes desgraçados,

*

Agora veem, sim, no topo do Calvário,

O sacrifício e a dor do eterno visionário,

*

Bradando com furor: – “Socorre-nos Jesus!

Que possamos vencer a dor em nossa cruz.

*

Sorvendo o amaro fel nas dores da aflição,

Temos fome de paz e sede de perdão!”

*

E o Mestre da bondade, o anjo da virtude,

Estende o seu perdão cheio de mansuetude.

*

E do cimo da cruz, calmo e silencioso,

Consola a multidão com o seu olhar piedoso.

Nota

A poesia acima, psicografada por Francisco Cândido Xavier, faz parte do livro Parnaso de Além-Túmulo

Obra completa: https://www.febeditora.com.br/parnaso-de-alem-tumulo

spot_img